terça-feira, 25 de dezembro de 2007

perspectiva otimista...

Pela primeira vez em anos acho que estou tendo uma perspectiva otimista a respeito da humanidade. Quanto mais leio sobre religiões e do quanto elas são nocivas, mais me convenço que os males da humanidade não estão diretamente relacionados à natureza humana e sim ao maldito hábito de formar grupos. Não dá pra negar, porém, que o maldito hábito de formar grupos faz parte da natureza humana, mas ter consciência disso é o primeiro passo para a libertação.

É bem verdade que o que ando lendo tem me deixado bastante inspirada. Este ano dediquei boa parte do meu tempo livre à leitura de autores que se propõe a ajudar a compreender o comportamento humano em tudo o que é relativo à moral, à ética e ao viver bem, tudo à luz da biologia, o que me fez perceber que as pessoas não precisam mesmo de nenhum tipo de religião para serem no mínimo razoáveis umas com as outras. Mais do que isso, tratar bem outras pessoas, e sentir coisas com compaixão, fazem parte da natureza humana, e não é necessário que nenhuma religião dite nada disso.

Gostaria de recomendar fortemente a leitura casada dos dois últimos livros que caíram na minha mão este ano. Um fala dos males da religião e o outro das origens biológicas da virtude. "Carta a Uma Nação Cristã", de Sam Harris, é leitura obrigatória para qualquer pessoa que se sinta razoavelmente esclarecida, e devia estar presente, em várias cópias, em todas as bibliotecas do Planeta, pelo menos da parte cristã dele. Acho até que o autor devia escrever uma versão para o Islã: Carta a uma Nação Muçulmana. É só inverter os argumentos e todos eles cabem direitinho. É tão evidente a falácia das duas facções que qualquer cristão consegue duvidar das visitas do Anjo Gabriel a Maomé, assim como qualquer muçulmano olha os cristãos no mínimo com curiosidade a respeito da ressurreição de Cristo.

O outro livro, de Matt Ridley (que aliás é um sujeito que escreve sobre comportamento humano e cujos argumentos sempre me agradaram muito), "As Origens da Virtude, um estudo biológico da solidariedade", mostra, com argumentos consistentes e bem defendidos, que por sermos animais sociais por excelência, a virtude não só está em nossas entranhas, como foi necessária ao longo do tempo, e mais, foi selecionada em nossa espécie. Juntando os argumentos de Ridley com a publicação recente de Hawks e colaboradores (PNAS, dez/2007 - Recent acceleration of human adaptative evolution), fica mais fácil entender a natureza humana. Nunca me convenci muito da idéia de que as pessoas são necessariamente egoístas e que só pensam em si. Tenho bonitos e honrosos exemplos de autruísmo que me mostram que isso não pode ser universalmente verdadeiro. Por outro lado, sempre me incomodou a teoria do gene egoísta do Dawkins. Ler os argumentos de Ridley foi realmente esclarecedor, deu pra acomodar perfeitamente o gene egoísta com os motivos egoístas de cada um e ainda assim ver excelentes bons motivos para a cooperação, as estratégias de paz, o autruísmo, a boa vontade entre as pessoas e tudo de bonito que de fato existe na humanidade.

Não, não estou louca e não fechei os olhos às loucuras de algumas pessoas. O pior é constatar que os grandes exemplos atuais , e de outros tempos, de intolerância, deflagração de guerras e matanças indiscriminadas, têm tudo a ver com a formação de grupos (o conceito de NÓS e ELES), e pior, de grupos religiosos. Ter um conjunto de dogmas nos quais se acredita e que são tratados como sagrados, que são absolutamente incompatíveis com outro conjunto de dogmas seguidos por outras pessoas, pode fazer com que tratemos os integrantes do outro grupo como cidadãos de segunda linha, ou como humanos de segunda linha, sub-humanos. Infelizmente é isso que acontece. O fato de ter a certeza de que os outros não vão para o céu ou pro paraíso, permite que qualquer coisa seja feita contra os infiéis. Se a própria divindade pode mandar os infiéis pro inferno ou pro raio que os parta, porque nós, que sabemos a verdade, soprada pela própria divindade, não podemos? O próprio Jesus dizia: "amai ao próximo como a ti mesmo", o que seria um excelente guia moral, não fosse o fato de que o próximo deveria ser um Judeu e não um Gentio (ou seja, amai ao próximo, mas não àquele que está um pouco mais distante de ti). Tanto é assim que a escravidão foi, por muito tempo, não só tolerada quanto incentivada e utilizada pela Igreja. Pela nossa natureza, só nos é possível escravizar aqueles aos quais não consideramos humanos.

Existe também o lado ritualístico que a maioria das religiões nos proporciona. Sim, somos seres rituais, apesar de alguns de nós não gostarmos nada disso. Gostamos de música e de festas provavelmente porque isso estreita os laços entre as pessoas. Talvez venha daí a necessidade de comemorarmos nascimentos, casamentos e de nos juntarmos, de uma maneira festiva, mas comedida, nos velórios e enterros. Vi, há muitos anos, um filme, chamado Baraka (Ron Fricke, 1992), que mostra, entre outras coisas, cenas de rituais das mais diversas religiões. Acho que o objetivo do diretor era mostrar a humanidade existente nestes rituais. Apesar de bonitos (e a beleza é uma coisa que valorizamos ao extremo desde que todas as necessidades básicas estejam satisfeitas), estes rituais mostram um lado um tanto quanto estranho da nossa natureza: a capacidade de crer que sacrifícios podem de alguma forma agradar a um suposto criador; que usar um determinado tom de roupa é bom e outro é ruim; que se ajoelhar ou levantar os braços faz com que sejamos escutados por nossa divindade; que dançar de uma determinada maneira ou vestindo determinadas roupas vai fazer chover, ou parar de chover; que ir a um determinado local purificará nosso espírito, seja lá o que tenhamos feito de mal aos outros durante a vida; que se gritarmos todos juntos dentro de um templo Deus intercederá e fará um deficiente físico andar, ou um cego voltar a enxergar. Na verdade o que mais me chamou a atenção no filme todo foi a última cena, que mostrava macacos da neve tomando banho quente de águas termais aquecidas por um vulcão. Não sei porque cargas d'água o olhar do macaco mostrado em close me pareceu, de longe, o mais inteligente dos olhares mostrados no documentário.

Bom, não vou me estender mais por hoje... Por coincidência é Natal, uma data preciosa para os cristãos. Nesta data eles deveriam comemorar o nascimento do Messias, que em tese trouxe paz para o mundo. No lugar disso, cultuamos o que sempre nos foi caro, a festa, a reunião de parentes e amigos e a troca de presentes. Antes de ser uma invenção do capitalismo, a troca de presentes deve ter sido outra maneira de aproximar as pessoas, e estreitar laços, de favorecer a cooperação e de garantir que em momentos de necessidade, podemos contar com os presenteados. Uma maneira fria de ver as pessoas? Talvez. Isso não tira de mim a vontade de estar com os meus, nem de presenteá-los. Também não faz de mim alguém que necessariamente quer algo em troca, mas alguém que sabe que sempre pode e sempre poderá contar com eles (e obviamente deixo muito claro que eles podem contar comigo).

Bons Rituais a todos, que o ano que vem (outra ótima invenção da humanidade, a idéia de recomeço) seja excelente pra todo mundo!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

no fundo os humanos são pacifistas...

Depois tem gente que reclama da vida e diz que o mundo é cruel...
Pelo menos os humanos (em média) sabem separar guerra de amor.



No fundo tudo que é biólogo sabe que estas coisas acontecem, mas ver é outra história. Viva o YouTube!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

o problema está no coletivo?

Hoje começou aqui em Porto Alegre um encontro de evolucionistas. Tem gente do Brasil inteiro, além de alguns estrangeiros ilustres... As discussões já começaram acaloradas, cada qual defendendo seus métodos e teorias com todo o amor e carinho possível a um cientista que se preze. O que mais me chamou a atenção, no entanto, não foram os pontos de discórdia, mas sim o ponto comum, que incrivelmente leva a uma reflexão a respeito do que pensa a humanidade sobre a própria humanidade.

Por coincidência (ou não), estou lendo um livro de Frans de Wall: "Eu, Primata: Porque Somos Como Somos". No livro o autor fala da vida social de chimpanzés e bonobos e tenta encontrar paralelos no comportamento humano. No capítulo que trata de guerras, ele cita como um grupo de chimpanzés pode ser agressivo com outro a ponto de torturar e matar os rivais (coisa que até pouco tempo se acreditava que era prerrogativa humana: torturar e matar membros da mesma espécie). No mesmo capítulo, ele citou um experimento feito com alunos em Stanford. Os alunos foram divididos, na base do cara e coroa, em dois grupos: guardas e prisioneiros. O objetivo era avaliar o comportamento deles nestes papéis por duas semanas. Depois de seis dias o experimento teve que ser suspenso por causa dos maus tratos sofridos pelo grupo dos prisioneiros. Tem um filme também, aliás, maravilhoso, chamado "Trem da Vida" Direção de Radu Mihaileanu), que mostra um grupo de judeus fugindo de trem dos Nazistas. Para que não fossem capturados por nazistas que fatalmente os encontrariam no caminho, eles se dividiram em dois grupos, o primeiro composto de judeus disfarçados de nazistas e o segundo de judeus disfarçados de prisioneiros... Se não deu pra imaginar o que aconteceu, veja o filme, é esclarecedor sobre a natureza humana.

Tudo isso me veio à mente por causa do assunto central do dia: evolução humana. Como aconteceu? O que se sabe (ou se postula) é que um grupo saiu da África há 1.9 milhões de anos e linhagens evoluíram em diferentes localidades (África, Ásia e Europa), sempre trocando genes umas com as outras. Depois disso, há aproximadamente 150 mil anos, outra leva (de anatomia mais moderna) saiu da África e se espalhou pelo mundo. A grande questão, que gera brigas e discussões polidas, mas acaloradas, é se eles saíram pelo mundo "making love or war", ou seja, se foram substituindo as existentes ou se misturando a elas.

De qualquer maneira, todos sabemos que temos um ancestral comum africano, e que não há qualquer sustentação para o conceito de raça dentro do Homo sapiens. Na verdade o conceito de raça é um assunto de fato superado entre os geneticistas (exceto para o prêmio Nobel, James Watson, que fez declarações lamentáveis sobre os africanos) e mais ainda entre evolucionistas. Há, no entanto, uma idéia de populações. Abandonamos o conceito tipológico (que abriga a idéia de “tipos” atribuídos a diferentes raças) pelo populacional, amplamente aceito pela comunidade científica. Este conceito apresenta amplas vantagens em relação ao anterior, já que postula que não há tipos, e sim médias populacionais. Nenhum indivíduo teria exatamente todas as características da média, e o mais importante, as médias se sobrepõe, tirando o sentido das divisões em raças (leia o ensaio “Typological versus Populational Thinking”, de Ernest Mayr para maiores esclarecimentos). Em sua fala, o Prof. Sérgio Pena propôs que a divisão populacional tampouco faz sentido. A alternativa pareceu muito razoável e vou tentar fazer aqui um arremedo dela: quando as linhagens de brasileiros foram estudadas, mostrou-se que temos mitocôndrias asiáticas ou africanas e cromossomos Y europeus. Quanto aos genes nucleares, ninguém sabe... Como eles fazem crossing-over, temos pedaços de genes das mais diversas origens, seja qual for a sua teoria preferida sobre os humanos modernos. Assim, Sérgio Pena propôs que cada indivíduo é na verdade um mosaico genético e que é impossível agrupar indivíduos em populações, raças ou o que quer que seja (peço desculpas pela supersimplificação do tema, para maiores esclarecimentos, clique aqui).

Sendo assim, podemos nos considerar únicos. Se bem é uma maneira individualista de ver o mundo, é uma maneira de não nos sentirmos parte de um grupo, e, o que é mais importante, não seremos rivais de qualquer outro grupo. A história está cheia de exemplos de grupos que se revoltam contra outros. Religiões levam a guerras santas (leia o novo livro do Dawkins “Deus, um Delírio” para ter uma noção mais realista disso), soldados matam por qualquer coisa que seja almejada pelo grupo (qualquer filme de guerra mostra isso pra você), pessoas com cores diferentes se odeiam... Na verdade, uma boa base para guerras é considerar o inimigo como não humano e a única forma de fazer isso é te convencendo de que você faz parte do grupo dos humanos. Além de trazer uma perspectiva de paz (já que não nos juntaríamos para lutar com outros grupos), uma visão individualista da humanidade também permite a valorização dos outros como únicos. Será possível avaliar qualidades e defeitos das pessoas de modo a respeita-las, admira-las ou mesmo evita-las com base em atitudes ou palavras de cada um, e não com base em idéias que temos sobre grupos (que agrupamos por cor, classe social ou qualquer outra bobagem). Para uma visão diametralmente oposta à minha, leia a entrevista de Charles Murray, autor do controverso “Curva do Sino”, o qual só recomendo para que você tenha uma idéia de a que ponto se pode chegar no racismo e intolerância.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

ainda falando do Asimov...

Tava "fuçando" nas ferramentas disponíveis para blogueiros não profissionais e achei esse negócio de enquete eletrônica. Achei que cabia uma enquete sobre o Asimov, já que decidi fazer uma campanha de divulgação do "Bom Doutor". Percebi que a popularidade do Blog aumentou nos últimos tempos, mas não sei se as pessoas entram por acaso, porque procuram no Google por algumas das muitas palavras que eu acabo usando na minha verborragia eletrônica, ou se tem gente realmente interessada nas bobagens que escrevo. De qualquer jeito, peço aos visitantes que votem, só pra eu saber o quanto ainda devo insistir na história do Asimov.

Pensei também em colocar um link para resenhas dos livros. No Blog do Lawrence (http://isaacasimov.wordpress.com) tem algumas, mas são tantos os livros que acho que mesmo com milhares de blogueiros fazendo a mesma coisa não vamos conseguir resenhas dos mais de 500 livros. Quem leu alguma coisa dele recentemente está convidadíssimo a incluir resenhas dos livros aqui. Prometo que coloco a resenha com o devido crédito a cada autor. Tomara que mais gente entre nessa campanha de divulgação, me entristece profundamente notar que Asimov pode cair no esquecimento...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

falando no Asimov...

Fiquei chocada ao perceber que quase ninguém aqui da Universidade ouviu falar do Asimov... E eu que pensava que ele era pop até demais. Quando descobri Isaac Asimov já tinha uns 14 anos e custei a me perdoar por não ter ouvido falar nele antes, como se eu tivesse culpa.

Bom, resolvi encarar uma empreitada de divulgação do "Bom Doutor" e felizmente descobri que já tem gente fazendo isso... Não me resta mais nada a fazer senão divulgar quem já está divulgando o Asimov.

Pra quem acha que o Al Gore foi o primeiro a alertar sobre os perigos do aquecimento global, saiba que Asimov, ainda em 1974 já tinha dito que a queima de combustíveis fósseis ia provocar o aquecimento do planeta e o derretimento das calotas polares.

Pra quem já ouviu falar que nenhum dos grandes escritores de ficção científica tinha previsto a Internet, ao ler outro dia um ensaio que o Asimov fez para a Enciclopédia Britânica, li um trecho que me emocionou: ele disse que ansiava pelo dia em que as pessoas teriam computadores portáteis ligados a um computador central que contivesse toda sorte de informações. Se isso não é uma previsão clara do que a Internet pode ser para nós, então não sei o que é...

Vou colocar os links para os blogs e sites do Asimov que encontrar surfando na web. Se alguém tiver mais alguma referência, por favor, me avise. Mais um favor, se você nunca leu nenhum dos 508 (acho) livros dele, passou da hora de ler! Pouquíssima gente pensa ou pensou com tanta clareza sobre tantos assuntos diferentes quanto Asimov, asseguro que é uma leitura no mínimo prazerosa dos 8 aos 150 anos!

será que vale a pena?

Desde que fui contratada na Universidade não tinha tido o privilégio de dar aulas na pós graduação, não que eu prefira dar aulas na pós, o que prefiro é ter alunos interessados, já que a disciplina não é obrigatória e portanto faz quem tem interesse. Como estou dando aula sobre uma das coisas que mais gosto de fazer, a minha satisfação aumenta ainda mais.

O grande barato é poder recomendar artigos e outras leituras para que os alunos leiam e possamos discutir em sala de aula, o que quebra a rotina enfadonha de dar aulas, falar "mais que pobre na chuva" como dizem os meus amigos mineiros e esperar que os pobres alunos consigam absorver pelo menos alguma coisa. Gosto mais de diálogos que de monólogos, especialmente quando se trata dos meus monólogos.

Outra coisa que gosto de fazer também e imbuir um certo espírito crítico nos alunos, de modo que possam ler textos acadêmicos de primeira qualidade e ainda assim conseguir contestar, pensar a respeito e concluir de forma livre e independente sobre o que foi lido (e chegar à conclusão de que poderiam ter feito melhor, este é o auge!). Como nesta disciplina eu ensino basicamente a construir filogenias baseadas em moléculas (filogenia molecular), é ainda mais fácil mostrar as limitações dos métodos de forma a retirar o aspecto impositor e doutrinário que as árvores filogenéticas parecem ter sobre os biólogos em geral.

Bom, durante uma discussão, onde eu estava enfatizando muitas das limitações dos métodos filogenéticos, um aluno me perguntou sem mais delongas: "se tem tanta limitação assim, porque deveríamos perder nosso tempo estudando evolução com estes métodos?"

Boa pergunta... Ao mesmo tempo que é boa, tem uma certa dose do preconceito de que a ciência tudo pode e que as respostas são absolutas. Nossa história escrita (do Homo sapiens) mostra uma série de interpretações errôneas sobre o mundo que em seu momento foram úteis para descrever fenômenos naturais, fazer previsões e mesmo fazer avançar tecnologias que no fim das contas aumentaram nosso tempo e qualidade de vida. Talvez os métodos filogenéticos não sejam mesmo a melhor maneira de estudar evolução, talvez tenhamos que pensar em novas formas ou resgatar formas antigas, mas por hora, apesar de todas as limitações conhecidas e as outras que ainda não percebemos, é infelizmente uma das melhores ferramentas que dispomos. Talvez todos estes estudos no final se mostrem errados mesmo e vamos ter que começar a estudar tudo de novo (e acredite, alguém vai se deliciar em começar de novo!)

Existe porém uma esperança de que nem todas as respostas estejam erradas e que possamos aproveitar parte deste conhecimento para poder compreender melhor a evolução da vida. É nesta esperança que eu me agarro ao estudar cada vez mais organismos e tentar retirar algum aspecto geral, em termos de padrões e processos, destes estudos.(Essa é em homenagem ao meu professor de evolução, que me ensinou que o que importa em evolução são padrões e processos, muito mais do que qualquer detalhe sobre qualquer grupo de organismos em particular).

Bom, onde eu queria chegar mesmo é num plágio declarado a um ensaio do Asimov que li outro dia: neste ensaio ele falou de várias importantes descobertas da ciência que em princípio foram tratadas como inúteis e risíveis. No comecinho do ensaio ele cita uma cena famosa atribuída a Aristóteles, que quando perguntado por um aluno da finalidade de se aprender filosofia e matemática o mandou embora, não sem antes dar-lhe uma moeda para que o aluno não ficasse com a sensação de que se esforçou tanto por nada...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

é só comigo mesmo...

Eu preciso contar, nunca vi isso acontecer com ninguém, me disseram até que se eu contar ninguém acredita (acho que se me contassem eu não acreditava!)

Estava eu, me preparando pra vir trabalhar e listando mentalmente o que tenho pra fazer hoje quando toca o interfone:

eu: quem é?
voz de mulher: é da farmácia
eu: não pedi nada, deve ser um engano
voz de mulher: A Erwinia tá aí?
eu: não tem ninguém com esse nome aqui...

Catei umas roupas que estavam no banheiro, ia colocar na máquina de lavar quando tocou a campainha (umas 5 vezes)

eu: quem é?
mulher: ABRE A PORTA! (as maiúsculas significam gritos)
eu: o que você quer?
mulher: ABRE A PORTA ERWINIA!
eu: não sou Erwinia!
mulher: É SIM!
eu: NÃO SOU NÃO
mulher: ENTÃO POR QUE NÃO ABRE A PORTA?
eu: PORQUE NÃO TE CONHEÇO
mulher: MAS EU TE CONHEÇO, E O MEU MARIDO ESTÁ COM VOCÊ

(comecei a compreender porque ela estava tão nervosa, mas por outro lado podia ser uma cilada, vai que ela tava acompanhada e tinha um assaltante ou um seqüestrador do lado dela, quem já morou em Campinas sabe o que é esse tipo de medo)

eu: EU VOU CHAMAR A POLÍCIA SE A SENHORA NÃO FOR EMBORA!
mulher: CHAMA QUE EU VOU ADORAR E AINDA MANDO VOCÊS DOIS PRO CHILINDRÓ! CHAMA, CHAMA MESMO!

(a essa altura já estava preocupada com a minha integridade física caso abrisse a porta e fosse parecida com a tal Erwinia que eu nem conheço)

Como sou nova na cidade, não tenho lista telefônica. Liguei para uma amiga, que ficou nervosa também e não achou o número. Nenhuma das duas lembrou do 190, muito útil nessas horas. Nisso já estava tentando contactar o porteiro já fazia um tempão e ele não atendia o interfone.

Fui à janela, por sorte tinha um rapaz num carro que gentilmente atendeu a meu chamado desesperado e chamou o porteiro. O porteiro subiu e a louca não estava mais lá... Eu contei pra ele a história toda e ele me olhava com uma cara de espanto que achei por um momento que tinha imaginado tudo aquilo e que estava nervosa à toa...

Quando eu falei o nome da moça, Erwinia, ele se lembrou dela, disse que de fato o dono da farmácia vive na casa dela e essas histórias de prédios...

Bom, escapei ilesa dessa, mas levei mais de meia hora pra me situar no mundo de novo... Essas coisas só acontecem comigo mesmo...

Crianças, essa é pra aprender que o telefone de emergência é o 190, que não se deve abrir a porta pra estranhos, sob pretesto algum, e que por mais que inofensivo pedir remédios por telefone, tudo na vida tem um custo associado (bom, depois dessa fiquei com medo!)

PS: troquei o nome da moça por razões óbvias!

domingo, 23 de setembro de 2007

Maria Bethânia canta

recordar é viver...

Ontem tava de bobeira na internet e resolvi procurar uma gravação da Bethânia da qual só ouvi falar recentemente. Sempre fui super fã de Fernando Pessoa, em especial de Alberto Caeiro, mas não sabia que um monte de gente tinha gravado poemas dele. Bom, o primeiro site que entrei tinha justamente uma interpretação do poema do menino Jesus. Muito longe de ser religioso, o poema é um apelo ao bom senso das pessoas. Pra quem não conhece Fernando Pessoa e seu heterônimo , Alberto Caeiro(o meu favorito), esta é uma ótima maneira de ser apresentado. Pra quem conhece, é emocionante ver como a Betânia o interpreta, ainda mais nesse poema, que como diria uma grande amiga, é LIIIINNNNDOOOO!!!

http://www.releituras.com/fpessoa_guardador.asp

sábado, 15 de setembro de 2007

cuméquié?

Pára tudo!

Alguém me explica o que aconteceu no senado esta semana? A imprensa faz muxoxo, os políticos dizem que foi uma vitória da democracia... (???) Como assim se o povo se posicionou contra Calheiros??? (Bom, pelo menos todo mundo que eu conversei, que reconheço, não representa nada em termos de números, já tinha condenado o cara, além disso vi uma série de manifestações lá em Brasília contra o resultado da fatídica votação!)

Mas daí fazem sessão secreta, ninguém sabe e ninguém viu, "só sei que foi assim..." Alguns comemoram descaradamente a vitória do pobre infeliz injustiçado (que ganha muiiiito melhor do que eu), outros dizem que é assim mesmo e que o resultado da votação tem que ser acatado mesmo que eles não concordem. Tá, tudo bem, isso lá é verdade, democracia tem dessas coisas...

Mas por que não abrir o voto? Por que votar a favor de um sujeito que está mais sujo que pau de galinheiro? Ou, se não está sujo e isso tudo é uma conspiração da imprensa, que é má e resolveu crucificar o coitado justamente porque ele é a personificação do bem; por que não votar a favor dele abertamente? Será mesmo que a imprensa de fato fabrica tudo e ficamos à mercê de notícias mentirosas que nos fazem pensar o pior de uma criatura imaculada?

E as declarações do infeliz? Por que tanta necessidade de ameaçar publicamente os colegas? (Essa eu respondo, os coleguinhas não devem ser lá muito limpinhos...) Eu fico pensando qual seria a minha atitude se fosse acusada injustamente do que quer que fosse... Talvez eu me afastasse do cargo, ficasse longe das vistas dos meus eleitores (a quem certamente eu daria explicações no momento oportuno) por um tempo e tentaria limpar meu nome na justiça comum. Eu sei que uma vez maculado um nome não fica limpo de uma hora pra outra, mas assim que conseguisse deixar tudo às claras, processaria meus delatores, um a um, arrancaria cada centavo de cada um dos infelizes; depois fazia outra campanha eleitoral (com o dinheiro das indenizações, claro!) e voltava pra vida pública com a cabeça erguida...

Por que será que ele não faz isso? Por que finge que não é com ele e não faz questão de provar nada? Qual é a desse cara? Qual é a do Senado? Qual é a nossa que não fazemos nada?

Voltando ao mesmo papo de sempre, a verdade é que a gente nunca faz nada em situação alguma mesmo... Todos os dias vemos gente que não pára na faixa de pedestres, pedestres que se enfiam na frente dos carros, gente que joga lixo no chão, aluno que mata aula, aluno que assina a chamada pelo colega, professor que finge que preparou aula, gente que sai do restaurante sem pagar... Enfim, um monte de coisas que acontecem no nosso nariz e ninguém fala nada... Não fala nada porque acha que está perdendo tempo, que não adianta, porque está com preguiça, porque sei lá o que. Tenho pra mim que a partir do momento que começarem a chamar a sua ou a minha atenção por cada falha, as falhas passarão a ser menos freqüentes, talvez apareçam outras, que também passem a ser menos freqüentes... Com isso deve-se reduzir substancialmente o número de coisas erradas... Será que o mundo melhora só com isso? Não dá pra saber se não começarmos a testar.

Proponho um teste: e se todo mundo que ler este post começar a ficar mais criterioso com atitudes indignas dos outros? E se cada um que levar uma chamada também começar a ficar crítico? Será que dá pra melhorar o entorno? Será que dá pra melhorar o mundo?

Por minha parte eu já sou chata assim mesmo, e moooorrrroooo de vergonha quando alguém chama a minha atenção por alguma coisa, especialmente se este alguém for aluno e estiver fazendo alguma crítica às minhas aulas... Fazer o que? Se eles não criticassem eu ia achar que está tudo perfeito, pressuposto que, por definição, mina qualquer possibilidade de melhora...

terça-feira, 10 de julho de 2007

De que cor você é?

Toda essa discussão sobre cotas nas universidades e as inevitáveis discussões sobre racismo acabaram gerando uma pergunta na minha cabeça: de que cor você é? De que cor eu sou? Como quase todo brasileiro tenho uma certa dificuldade de saber de que cor eu sou (não que eu ache que isso seja essencial, mas enfim...). Acho que esse deveria ser um ponto a ser debatido na defesa ou na rejeição das cotas para negros. Como eu tinha colocado no meu post anterior, um dos grandes problemas é quem decide quem é negro e quem é branco, se eu não consigo saber de que cor sou, será que mais alguém tem autoridade pra isso? Ter um pai japonês e uma mãe que parece branca me faz japonesa? Ou branca? Eu poderia ser classificada como sendo amarela ou branca para algum procedimento legal? Acredito que tem gente que sabe de que cor é, acho até que consigo saber de que cor são algumas pessoas, mas não consigo diferenciar a maioria. O que é ser mestiço, mulato, pardo? O que significam estas categorias? São de fato categorias? Dá pra medir ou essa é uma questão social? Uma vez ouvi de um menino que a mãe dele é branca e o pai é negro, e que portanto ele é negro. Ele é negro? Isso me lembra um artigo do Mayr que fala de pensamento tipológico e populacional. Segundo ele todas as teorias racistas foram construídas com base em encontrar características típicas de uma raça que a diferenciariam das outras. De fato os eugenistas faziam medidas de tudo o que você imaginar para determinar de que raça era cada pessoa... Li um trabalho relativamente recente falando das mitocôndrias (herança materna) e dos cromossomos Y (herança paterna, esclusivos dos machos da espécie) de brasileiros. O melhor de tudo é que parece que temos mitocôndrias de origem africana e asiática, enquanto temos cromossomos Y europeus. A conclusão dos pesquisadores é que isso é fruto de estupros e relacionamento extra-conjugais dos brancos com negras e índias. Ou seja, trocando em miúdos, somos todos descendentes de vítimas e algozes.
Isso foi só pra colocar lenha na fogueira... Não acredito em diferenças biológicas relevantes entre pessoas de "raças" ou "cores" diferentes. Como disse o Enio em um comentário, esse negócio de cotas para uma raça parece que está chamando alguém de inferior ou menos capaz. Acho que gente menos capaz não existe, mas existe sim gente que teve menos oportunidade, e me convenci que é essa gente que merece alguma atenção imediata como bem disse o Felipe, a Fernanda e a Juliana. Se for verdade mesmo que há mais negros entre os mais pobres, então cotas para pobres que sejam bem gerenciadas e fiscalizadas deveriam mesmo ser implementadas e certamente beneficiariam mais negros e pardos do que brancos, se é que isso significa alguma coisa...
Só pra não ficar a impressão de que tenho algum problema de vista, eu consigo ver diferenças entre as pessoas sim, só queria viver num mundo em que estas diferenças fossem só superficiais e que nada pudesse ser decidido em função delas. Ufa, acabou! Podem bater à vontade!

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Cotas e racismo. Mais sobre cotas nas universidades...

Recebi hoje o comentário de um colega, o Hermes Medeiros, pesquisador do Museu Emílio Goeldi no Pará. Resolvi transcrever o comentário aqui porque acho que ele tem uma idéia muito clara do que é racismo e de como as cotas o refletem. Tomara que sirva pra refletir um pouco mais sobre o tema.

"Oi karlinha,

Vou dar uns pitacos também. Acho que a cota associada a “raça” pode ser resumida como “atribuir um favorecimento a alguém com base em sua “raça”” o que inevitavelmente implica em “desfavorecer alguém com base em sua “raça””. Isto é racismo. Aqui não estou colocando minha opinião. É o que a palavra racismo significa!
Não existe racismo positivo. Em qualquer sociedade racista sempre poderíamos achar pessoas inteligentes que argumentariam bem em favor de seu ponto de vista. Seria possível, por exemplo, argumentar a favor da necessidade econômica da escravidão, por exemplo. O problema não é o racismo negativo, mas o racismo. Estávamos experimentando uma diminuição do racismo, como podemos observar comparando as opiniões de pessoas de diferentes idades.
Esta iniciativa de “racismo positivo” é um grande retrocesso, nos obrigando a discutir inclusive métodos para determinar a raça de cada um de nós; quando a tendência natural seria colocarmos a cor como mais um de tantos aspectos que variam entre nós, como estatura e peso. O que está mais de acordo com os resultados obtidos pelos estudos de genética.
Um argumento a favor das cotas é de que a falta de oportunidade passa de uma geração para outra. Consequentemente as crianças não nascem com oportunidades iguais. Também não aceito que as cotas por “raça” sejam a forma certa de tratar isto. Neste país nascem crianças sem oportunidade de estudar de todas as cores, porque descendem de escravos, porque descendem de retirantes da seca, porque são filhos de alcoólatras, entre outros. As cotas atendem uma destas categorias em detrimento das outras. Para aquele, que por sua cor não entra na cota, mas, como a maioria dos brasileiros, não teve acesso a uma boa escola, a universidade fica ainda mais difícil.
O que fazer então com relação à associação entre cor e renda? Simples. Esquecer a cor. A história deixa associações entre variáveis genéticas e econômicas/culturais no mundo todo. O problema não é o negro sem oportunidade, mas o homem sem oportunidade.
E o que fazer contra o racismo? Marcação cerrada diretamente em cima dele. E não vamos deixar este trabalho só para o estado. Você tem um amigo racista? Você tolera comentários racistas? Eu só tolero, ainda que detestando, o racismo em pessoas com mais de 50 anos, pois eles foram formados em sociedade diferente da minha e que um dia vai ser substituída. Quando encontro uma pessoa jovem racista (ou com qualquer outro preconceito ridículo), vejo isto como um indicador de mal-caratismo e tendo a excluir no meu convívio, além de criticar na hora sempre que possível, claro. É meu critério".

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Nós e lixo...

Há algum tempo li um texto do Gould falando de evolução (claro!) e do quão pouco parcimoniosa é a natureza. Com sua erudição ímpar, ele citou, além de exemplos biológicos, várias obras de arte e aspectos culturais, e, como sempre deixou o texto esplendido. Neste texto em especial (que agora não lembro o título, mas quando lembrar, farei questão de colocar uma cópia aqui), ele comparou a eficiência das bactérias à eficiência dos japoneses e atribuiu estas eficiências à simplicidade das bactérias e à falta de criatividade dos japoneses (ok, é uma visão estereotipada, mas se justifica na fama e fortuna que os japoneses fizeram ao miniaturizar e turbinar cacarecos eletrônicos inventados por outros povos). Continuando o paralelo, Gould falou também da necessidade de se fazer coisas inúteis, que não necessariamente gerem produção em curto prazo. A capacidade de fazer coisas inúteis, ou passar um tempo no ócio (no sentido da falta de produção) segundo ele, incentiva a porção criativa das pessoas, aquela capaz de criar, de fazer arte, de levantar boas hipóteses etc. Aí ele entra com a melhor das comparações: bactérias são eficientes o suficiente para não desperdiçar energia duplicando um genoma enorme cheio de DNA "lixo". Se pegarmos os genomas de eucariotos, grande parte dele não codifica proteínas, e, portanto, era até bem pouco tempo considerado DNA lixo... Em compensação, as bactérias continuam sendo seres muito simples, enquanto que os eucariotos, com todo o material genético inútil que armazenaram, conseguiram se tornar mais complexos.

Gould argumentou que a evolução de organismos complexos se deveu em parte à duplicação de genes e de pedaços de DNA. Uma vez que um gene é duplicado, podem acontecer três coisas diferentes: 1) O organismo passa a ter 2 genes que produzem exatamente a mesma proteína; 2) Com o tempo uma das cópias pode sofrer uma mutação qualquer e deixar de funcionar, tornando-se um pseudo-gene, que, como não tem função, vai acumular cada vez mais mutações e tende a se tornar parte do lixo no genoma; e 3) Uma das cópias pode sofrer mutações e mudar de função. Esta terceira opção deve ser de longe a menos provável, mas como estamos no planeta (nós, os seres vivos) há mais ou menos 4 bilhões de anos, quase tudo pode ter acontecido, e esta pode ter sido a grande responsável pela diversificação dos eucariotos, já que permitiu o surgimento de novas proteínas, e portanto o aumento de complexidade e adaptabilidade a mais ambientes...

Tudo isso muito encaixado no meu raciocínio pra lá de simplista até aqui. Acho que dava pra ir além, já que pela teoria da seleção natural, não consigo ver como retirar o lixo do genoma, já que organismos que possuem o lixo não devem deixar mais descendentes que os que não têm. Então genomas de eucariotos seriam grandes depósitos de cadáveres de genes que se acumularam ao longo da evolução.

É claro que eu não ignorava a existência dos RNAs, mas até então, pensava neles como mais uma classe de ferramentas que a célula usa para construir as proteínas (RNA mensageiro, transportador e ribossomal, pra citar os exemplos mais conhecidos).

O estudo de 1% do genoma humano e a comparação deste fragmento com o genoma de diversas outras espécies de eucariotos deu um nó na minha cabeça. Este 1% parece ter seqüências não codificadoras de proteínas que são mais conservadas entre os mamíferos que algumas seqüências codificadoras. Isto significa que estas partes não codificadoras devem ter alguma função muito importante. A outra descoberta é que uma porção muito maior do que se pensava do DNA é transcrita em RNAs, que devem ter funções de regulação da expressão gênica. Este trabalho certamente reduz a proporção do DNA que pode ser considerado lixo no genoma de eucariotos. Será que o estudo dos outros 99% vai mostrar que o genoma não acumula por muito tempo cadáveres de genes, e que os pseudo-genes são seqüências que tendem a sair do genoma? Vou ter que esperar pra ver as cenas dos próximos capítulos. Por enquanto me agarro à esperança de que boa parte dos genomas dos eucariotos seja lixo mesmo, como eu pensava antes. (Bom, agora eu coloquei humildemente a minha cara a tapa! Estou preparada, tomara que este post bata recordes de comentários no meu tão obscuro blog...)

domingo, 24 de junho de 2007

Vai fazer, faz direito!

Gostaria que este fórum fosse apenas para falar de idéias boas e de discussões produtivas que tive com meus alunos em minha sala. Mas como no mundo real nem tudo são flores (e a minha sala infelizmente se situa nesse mundo), resolvi usar este fórum para discutir um assunto que anda me tirando o sono...

Uma das coisas que mais me irritam no momento é ver alunos inventando desculpa esfarrapada pra não assistir aula e pra justificar, sabe-se lá por que, o fato de não terem assistido uma aula e da assinatura deles estar mágicamente estampada na lista de chamada. "Sabe como é, né professora? Todo mundo faz isso...". No primeiro dia de aula eu disse que não reprovava ninguém por falta, só por incompetência. Claro, esses alunos também não apareceram no primeiro dia, mas tudo bem... (gostaria de informar que só aconteceu isso porque os alunos assinaram um acordo de fazer mais uma prova, e eu disse que esta só aconteceria se todos assinassem, com isso, alguns faltosos me procuraram para assinar a lista e surpresa: já estava assinada...)

O problema não é bem faltar, ou pedir pra alguém assinar a lista que eu tenho que passar por questões burocráticas. O problema é tentar justificar o injustificável com insinuações do tipo: _"Sabe professora, o tipo de professores que temos aqui reflete em nosso comportamento..." Como assim?, pergunto eu, atônita. "_Aposto que a maioria dos professores que dão aula aqui também faltavam aulas como eu". Tá, tudo bem, todo mundo já faltou aulas, mas justificar uma atitude com outra do passado do seu professor não é um pouco demais? Por quê um aluno universitário, adulto e dono do próprio nariz não é capaz de assumir que faltou porque não estava com vontade de assistir à aula, seja porque a aula é ruim, ou repetitiva, ou simplesmente porque ele não tem nenhum interesse na matéria em questão?

A cultura que se criou por aqui, e que talvez seja coisa antiga, é: "não faço o que tenho que fazer, mas alguém sempre assina pra mim, de modo que, para fins burocráticos, fique registrado que fiz". Isso me lembra os deputados na época do Geton (alguém aí sabe se ainda existe?). Os deputados votavam pressionando botões num painel eletrônico, e quando um deputado faltava ao plenário, o "coleguinha" do lado votava por ele, de modo que ele não perdia o adicional (o tal do Geton) que ganhava só por comparecer (ou não!). Quando um aluno perde uma aula, problema dele, quem corre o risco de perder alguma coisa é ele mesmo, mas quando um deputado falta ao plenário e deixa que outro vote por ele, pode estar prejudicando seus eleitores.

Voltando aos alunos: não acho que as aulas sejam essenciais, elas deveriam servir de guia de estudos, para nortear o que deve ser estudado. As aulas também poderiam ser um momento em que o aluno pode sanar dúvidas e discutir certos pontos. De qualquer forma, se o aluno é capaz de aprender as coisas por conta, em princípio não precisa assistir a nenhuma aula, desde que seja capaz de ser aprovado nas provas. O problema é que boa parte dos alunos que falta em geral não é capaz de fazer as provas, o que resulta em mais tempo ocupando uma vaga na universidade, o que onera o estado no caso das universidades públicas. Ou seja, quando não tem competência pra estudar por conta e mesmo assim falta, o sujeito não está mais só se prejudicando, está onerando o estado, consumindo à toa o seu dinheiro, caro leitor, o meu e o dele mesmo. Minha sugestão é a seguinte: você acha que está perdendo tempo assistindo aula? Não assista, você tem o direito de economizar o seu tempo e o do professor. Mas por favor, use esse tempo pra estudar, mas estude direito e dê um jeito de ser aprovado, de preferência logo!

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Críticas, vaidades e verdades...

Cada dia eu me convenço mais que ninguém gosta de ser criticado. Alunos não gostam das críticas dos professores, que não gostam de ser criticados pelos alunos. Quando os pesquisadores mandam seus trabalhos para publicação, também não gostam das críticas dos revisores das revistas especializadas.

A ciência só funciona porque é constantemente criticada. Cada idéia, cada projeto, cada resultado, cada conclusão deveria ser duramente criticada, em todos os estágios até que o trabalho fique pronto. É isso que garante a credibilidade de um trabalho, já que à luz das críticas ao longo do processo os eventuais erros são sanados, de forma que não comprometam as conclusões e discussões.

A educação deveria tomar o mesmo rumo. As críticas deveriam fazer o processo fluir melhor, de modo que o canal de comunicação entre professores e alunos ficasse mais aberto, o que ajudaria a melhorar nosso produto: pessoas cada vez melhores no que fazem.

O problema é que somos todos seres humanos, e como tal, temos nossas vaidades, nossas suscetibilidades. Esta semana ouvi vários casos de críticas que infelizmente foram mal recebidas, em parte porque foram mal feitas e em parte por causa das vaidades e suscetibilidades dos criticados. É preciso lembrar que pesquisadores e professores são pessoas mais vaidosas que a média da população. Veja bem: ganham menos do que gostariam e, salvo em raríssimos casos, não alcançam fama. Com isso, só trabalha nisso quem gosta, e em geral essas pessoas cultivam pequenas vaidades: de ser um bom pesquisador (que aflora quando um trabalho é aceito em uma boa revista) ou um bom professor (que aparece quando os alunos fazem boas perguntas ou se mostram interessados no que se ensina).

Bom, tudo isso foi para dizer que há duas coisas importantes nessa história toda: a primeira é nunca perder uma boa oportunidade de ficar calado (não quero dizer com isso que as críticas não devam existir, só quero salientar que críticas devem ser bem elaboradas e pensadas, para que não se tornem destrutivas, e portanto inúteis) e a segunda é aprender a ouvir críticas, lembrando que quem falou teve uma motivação, mas pode não ter refletido o suficiente, e que, no fundo, alguma coisa tenha que ser de fato mudada. Há, tem uma terceira coisa: se a crítica não se aplica, o melhor é não sofrer com ela, afinal sempre existe a possibilidade de ter sido feita num momento de insanidade.

domingo, 17 de junho de 2007

Cotas nas universidades...

Desde que começaram as discussões sobre cotas nas universidades tenho conversado com meus alunos sobre o tema. Talvez por ter sido professora de evolução na outra universidade que trabalhava, o assunto vinha à tona quando o tema da aula era variabilidade genética e eu entrava no assunto "raças". Já está certo que este conceito não é aplicável ao Homo sapiens, apesar das diferenças entre as pessoas existirem e eu achar que esta é uma das coisas mais bonitas da biologia (que porcaria seria se fôssemos todos inguais!). Bom, quando são mostradas as estatísticas de que há muito mais diferenças genéticas dentro de grupos (de diferentes cores, por exemplo)do que entre eles, fica bem claro, pra quem quiser ver, que não dá pra definir grupos do ponto de vista genético.

E as cotas? A esmagadora maioria dos alunos negros com os quais conversei é radicalmente contra. Hoje em dia, depois que você sai da universidade o seu empregador não quer nem saber em que lugar você ficou na classificação geral do vestibular... Pudera, isso em geral não diz o quão competente você é, nem o quanto conseguiu aprender na universidade, e muito menos o quanto você conseguirá aplicar o que aprendeu. Com as cotas, será que isso vai mudar? Será que um empregador ao ver um bacharel negro pedindo empregou não vai pensar: "ele entrou por cotas, será que é competente?", tipo da dúvida que não existia antes, já que todos entravam na universidade com mais ou menos o mesmo mérito (o daquela prova nojenta, que depois que você entra, ninguém mais leva em conta).

Na outra ponta estão os alunos do ensino médio e dos cursinhos por aí: antes a missão deles era "matar um japonês por dia pra passar no vestibular". E agora? Ouvi de uma amiga minha que o filho dela, que nunca tinha feito nenhum comentário racista, agora deu pra desdenhar alguns dos colegas, fazer piadinhas racistas e se sentir prejudicado porque não pode entrar em nenhum tipo de cota.

E dentro da sala de aula, já na universidade? Como fica a relação de alunos que entraram sem cotas com os alunos que entraram por cotas? Será que eles farão parte da mesma panelinha? Será que alguns alunos se sentirão superiores a outros? Isso tudo sem falar dos sistemas adotados pelas universidades pra definir quem entra ou não entra pelo sistema de cotas (vide o vexame recente da UNB). Isso de definir quem é negro ou não me lembra muito o início da eugenia nos EUA, que acabou com a castração involuntária de milhares de pessoas, antes de Hitler chegar ao poder na Alemanha (para uma referência mais concreta, leia "A Guerra Contra os Fracos, de Edwin Black).

Uma forma de contornar isso foi adotada por algumas universidades: cotas para alunos de escolas públicas, ou "cotas para pobres". Li uma crítica sobre as cotas para "pobres" adotada na Universidade Federal de Juiz de Fora: a esmagadora maioria dos alunos que entrou pela cota de escola pública foi de alunos do colégio da própria universidade, o trágico disso é que estes alunos em geral vêm de famílias que estão longe de ser pobres, e pior, a proporção dos alunos deste colégio que estraram na universidade não se alterou com o sistema de cotas. Resultado: a maioria dos alunos das outras escolas públicas continuam de fora.

Na minha honesta opinião, o que precisamos é de uma reforma séria no ensino básico da escola pública. Quando falo de reforma séria estou falando de acabar com a palhaçada institucional da progressão continuada, de melhorar as condições de vida dos professores (pelo pagamento de um salário pelo menos razoável), de estimular a capacitação dos professores (plano de carreira, por exemplo). Será que é pedir muito? A teoria da progressão continuada é linda, mas na prática, está piorando muito a situação, já que governantes e demais responsáveis pelas políticas educacionais parecem jamais ter lido do que se trata.

Outra coisa que precisa ser questionada é a necessidade de "universidade para todos". Vou ser bem antipopular agora, mas não acredito em qualquer coisa que seja para todos. Se eu tivesse poder pra isso, gostaria de instituir a "universidade para quem deseja estudar". É sério: nem todo mundo gosta de estudar, isso é real! Digo mais: nem todo mundo deveria ter que gostar de estudar. A sociedade deveria ser organizada de tal forma que qualquer tipo de trabalho bem feito fosse devidamente remunerado. Isso sim garantiria condições para todos. A universidade deveria ser um espaço sagrado, reservado para aqueles que de fato queiram estudar, qualquer um, de qualquer cor, credo, partido político, que tenha o objetivo claro de aprender e não de ter um diploma (parece loucura, mas tenho a nítida impressão que mais de 50% dos meus alunos não estaria na universidade caso tivesse acesso direto a um diploma...). Se as coisas fossem organizadas assim, aposto que não precisariamos nem de vestibular: cada um escolheria o que de fato quer da vida, e não haveria problemas de vagas nas universidades.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Corrida insana, mas divertida!

É... a gente tenta se atualizar, tenta saber sempre das últimas notícias, pelo menos do micro universo o qual achamos que temos um mínimo de domínio, mas sempre acaba levando sustos. Hoje me surpreendi duas vezes ao ler o Jornal da Ciência: descobri que o que disse ainda ontem aos meus alunos que estava em estudo e que ainda levaria um bom tempo pra ser descrito foi descrito na Nature de duas semanas atrás... Lamentável não saber disso. Me explico: estava dando aula sobre expressão gênica, ou seja, como as células fazem para saber quais proteínas vão produzir (grande parte das proteínas são tecido-específicas). Um dos passos disso é o que os geneticistas chamam de "splicing" alternativo. Sem entrar em detalhes para os leigos (perdão, mas a matéria de Fernando Reinach no Jornal da Ciência é bem elucidativa)cada RNA mensageiro pode ser editado de forma a ser o molde para diversas proteínas diferentes, tudo depende de como é editado (que pedaços são retirados e que pedaços são mantidos). Bom, após explicar este lindo processo (com um pouco mais de detalhe)afirmei, por pura ignorância, que ninguém sabia como era regulado. Bom, resulta que descobriram, e não é tão complicado assim, tanto que agora eu vou ter que voltar e explicar isso pros meus alunos. Só espero que eles consigam sentir o quão viva está a ciência.

A segunda surpresa foi por causa de outra matéria da Nature (mas essa felizmente foi de ontem...): o alinhamento de 1% do genoma humano com o DNA de outros mamíferos revelou que grande parte do DNA que consideramos "lixo" tem mais restrições às mudanças que parte do DNA utilizado como molde para a produção de proteínas. Ora, se é mais conservado que o esperado, então estamos diante de um fato que nos obriga a estudar melhor este "lixo" todo. Sempre achei que não sabíamos tudo a respeito do DNA, mas sempre tive convicção de que grande parte dele era lixo mesmo (simplesmente porque, segundo a teoria da evolução pela seleção natural, não há pressão para que um DNA sem função seja expulso das células). Bom, diante dos novos fatos, somos obrigados a estudar os outros 99% do DNA só para saber se o padrão se mantém ou se grande parte do DNA é lixo mesmo.

Como comentou uma aluna minha ainda ontem: "a gente estuda, estuda e fica a anos-luz de distância do que gostaria". É, é insana mesmo essa corrida, mas o que seria da humanidade se não fossem as questões a ser respondidas?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Reflexão e Inércia

Desde que comecei a dar aulas, sempre que um aluno me procura por um motivo ou por outro, faço questão de parar o que quer que seja para atende-lo (algumas vezes realmente não é possível, mas eu me esforço bastante pra isso). Eu gosto de saber o que se passa na cabeça deles, se estão gostando da matéria, do curso, se já sabem que rumo vão tomar profissionalmente e essas coisas. Tudo isso é mesmo só uma desculpa para conhecer melhor “o meu eleitorado”, tentar descobrir o que está funcionando e o que não está funcionando em minhas aulas, enfim, tentar melhorar como professora. Às vezes me surpreendo com algumas perguntas, fico pensando que diabos estou fazendo da minha vida já que o aluno assiste aula, aparentemente entende tudo e me faz uma pergunta que deixa óbvio que não entendeu nada desde o início. Outras perguntas mostram a capacidade de decorar que os alunos têm, que muitas vezes é diretamente proporcional à capacidade de esquecer e inversamente proporcional à vontade de pensar no assunto... Outro dia me aconteceu de perder a paciência com um aluno (aqui na minha sala, cabe dizer, longe dos outros). Acho que acabei me excedendo e falando um monte de coisas que achei, naquele momento, que ele precisava ouvir. Em seguida me arrependi, achei que peguei pesado demais e cheguei a pedir desculpas. Depois fiquei pensando: acho que devo a minha formação, torta ou certa, aos professores que tive que tiveram a coragem de chamar a atenção para alguma coisa que eu estava fazendo sem me dar conta. Não acho que sou dona da verdade, mas fiquei pensando se não é função do professor, em determinados momentos, chamar a atenção de um determinado aluno sobre alguma coisa que julgue certa ou errada. Se o professor está certo ou não, é outra história, mas que uma chamada bem dada pode ajudar a começar a refletir sobre certas atitudes, isso lá ajuda, nem que seja pro sujeito se convencer de que o professor se equivocou miseravelmente e que a melhor atitude a ser tomada é aquela mesma, só que agora depois de uma reflexão, e não por pura inércia...

quarta-feira, 6 de junho de 2007

E a palavra professor?

Hoje conversando com um aluno, ele se sentiu ofendido por ter sido chamado justamente de "aluno". Ele ouviu a história de que alunos são seres "sem luz", ver post anterior, e acreditou... Depois de se convencer que aluno vem de alere, ficom mais feliz mas contra-atacou: "professor é aquele que professa uma fé, que tem idéias pré-concebidas e trabalha em Pro destas idéias". Confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha. Pra quem também tem dúvidas, lá vai:

Professor «latim professor,ōris, "o que faz profissão de, o que se dedica a, o que cultiva; professor de, mestre", do radical de professum, supino de profitēri, "declarar perante um magistrado, fazer uma declaração, manifestar-se; declarar alto e bom som, afirmar, assegurar, prometer, protestar, obrigar-se, confessar, mostrar, dar a conhecer, ensinar, ser professor".»

Então, se estamos falando da relação entre professores e alunos, ouso interpretar que o professor é a figura que cultiva aquilo de que se alimentam os alunos numa sala de aula: o conhecimento, que ele só tem porque foi e continua sendo aluno. Além de cultivar, ele também tenta educar, palavra que tem como origem justamente do latim ‘educo, as, are, avi, atum’, «criar (uma criança), nutrir, amamentar, cuidar, educar, instruir, ensinar».

terça-feira, 5 de junho de 2007

Afinal, para que servem as aulas?

É muito triste para um professor perceber que um ou mais alunos, por mais esforço que façam, não conseguem compreender por que assistir certas aulas. É certo que dependendo das ambições e projetos de cada um, uma determinada aula não sirva de fato pra nada. É bem possível que aula alguma sirva mesmo para alguma coisa... Então temos um problema sério: será que estamos todos perdendo um tempo precioso na sala de aula? Ou será que aulas têm um propósito maior? Acredito que algumas pessoas sejam de fato capazes de aprender sozinhas, e que tanto a figura do professor quanto as aulas em si sejam absolutamente desnecessários. No entanto, não acho que isso se aplique à esmagadora maioria das pessoas que busca educação formal. Se não, que sentido faria isso tudo? Para quê tanta perda de tempo? Acho que passou da hora de se fazer uma boa reflexão a respeito: Alunos, o que querem vocês da universidade? Professores, o que afinal estão fazendo de suas vidas? Quanto a mim, descobri que uma boa parte das pessoas que está na universidade (nesta e em outras por onde andei) negligenciam o cérebro que têm... Estou numa cruzada insana de tentar fazer com que os alunos comecem a raciocinar pelo menos um pouco sobre o que já aprenderam e sobre o que estão aprendendo no momento. Descobri que se minhas aulas não servirem para ensinar genética, fico satisfeita com a esperança de que algumas pessoas se descubram como seres pensantes, e como tal se tornem pessoas melhores.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Significados das palavras...

Aula, segundo o Priberam, significa palácio, ou a sala onde se recebem lições. Definições praticamente opostas dadas as condições da maioria das escolas e universidades. Este primeiro significado é quase um chamado à reflexão: o que fazem hoje os professores e os alunos nas salas de aula mundo afora? Será que estes palácios estão sendo tratados com o devido respeito?

Outra palavra que tem tido sua origem esquecida e às vezes deturpada é aluno. Já ouvi mais de uma vez que aluno significa "não iluminado", como se o "a" significasse sempre negação... Uma rápida olhada no dicionário ou uma busca rápida no google revelam que aluno não significa nada disso, significa apenas discípulo, aprendiz, e deriva do verbo alere (latim), que significa alimentar, nutrir, crescer, desenvolver, animar, fomentar, criar, sustentar, produzir, fortalecer etc (leia o excelente texto de Newton Luís Mamede) .

Será que dizer que os alunos são pessoas sem luz e esquecer que a origem da palavra aula reside em palácios não seria uma forma de desvalorizar a educação em si? Talvez tenhamos entrado nesse jogo por no fundo não acreditar na educação como algo que tem sim que ser defendido com unhas e dentes por todos nós. É bom lembrar que nenhum intelectual que se preze jamais deixa de ser aluno. Se alguém aí se acha na condição de ensinar é porque aprendeu de maneira mais ou menos fácil que tem muito a aprender.

Diferenças entre o DNA e o RNA

Todo mundo que faz biologia sabe de cor quais são as diferenças entre o DNA e o RNA: o RNA tem um oxigênio a mais na pentose que o DNA, e além disso tem uma base diferente, a uracila no lugar da timina. Isso sem falar que é uma molécula de fita simples...
No entanto, pouca gente parou para pensar nas diferenças... Por que será que ser um ribonucleotídeo é tão diferente de ser um desoxirribonucleotídeo? Já parou pra pensar no que uma molécula de oxigênio pode fazer a uma molécula? A coisa mais trivial que o oxigênio faz é tornar a molécula mais reativa, ou mais susceptível a reações com outras moléculas. Ora, para um DNA isso seria um péssimo negócio, já que é a tal da molécula da hereditariedade, e portanto precisa ser protegida desse tipo de problema. Por outro lado, o mRNA pode ser pensado como uma molécula mais efêmera (ou temporária), que é produzida quando uma proteína precisa ser sintetizada dentro da célula. Nada melhor que ter uma vida curta nestes casos, só pra evitar que fique sendo traduzida no citoplasma ad eternum, o que seria um problemão para a célula.
E a uracila? A uracila é uma timina sem um grupo metil... Já adivinhou? Pois é, o metil é o grupo que protege os ácidos nucléicos (o outro nome do DNA e do RNA) das nucleases... Bom, como a timina é a única base nitrogenada que tem um grupo metil, pode-se imaginar como o metil protege o DNA de danos causados pelas nucleases, coisa que o RNA não tem...
Pensando um pouquinho mais pra frente, o RNA recebe uma capa protetora na extremidade 5' que tem, entre outras coisas, vários grupos metil. Na outra extremidade ele recebe uma cauda poli-A, que serve basicamente para sofrer os ataques de outras moléculas enquanto as proteínas são sintetizadas. Como a cauda acaba sendo extinta, pode-se dizer que esta cauda controla o tempo que o RNA pode permanecer no citoplasma como molde para a produção de proteínas...

E quanto ao DNA? O DNA fica no núcleo, guardando muito bem guardados os moldes para a produção de toda e qualquer proteína do organismo...

Começando...

Conversando com algumas pessoas aqui na minha sala, vi que algumas idéias realmente valem a pena ser divulgadas. Uma multidão de alunos me procura todos os dias para discutir evolução, pensar em coisas relacionadas à história da vida, à humanidade, ao papel da universidade... Bom, talvez eu tenha exagerado e dois ou três alunos não formem de fato uma multidão, mas o fato é que alguns alunos me procuram, e, por causa deles, resolvi montar este blog.