domingo, 9 de outubro de 2016

Regabofe às nossas custas para tirar nossos direitos

Ok, eu estou revoltada com a PEC 241, e o que estou fazendo? Descrevendo a minha revolta no FB e aqui no blog. O que mais poderia fazer?

Como professora universitária, muito pouco, o que dá pra fazer é protestar contra esse governo golpista onde posso, para deixar bem clara a minha posição e talvez convencer a mais gente que o golpe foi um mal negócio e que o povo precisa se mexer para evitar que os danos sejam ainda maiores.

Fico pensando de que adianta… A imagem do PT ficou tão suja nos últimos tempos que o povo acreditou que o partido inventou a corrupção e que a fez evoluir, a ponto de ter exaurido os cofres públicos e que a única maneira de ajeitar a situação é fazendo todo mundo pagar (leia todo mundo apenas a maioria da população, aquela que depende de saúde e educação pública, sem falar de programas sociais). Cada resvalo do PT foi anunciado, re-anunciado, aquecido, re-aquecido, comentado e criticado à exaustão. Li o último livro do Umberto Eco (Número Zero, recomendo fortemente) e entendi como se faz, foi bem didático. Vou tentar explicar para quem tiver paciência. Se você, jornalista, quer acabar com a moral de uma pessoa, organização, religião ou partido, basta que tenha sempre notícias ruins sobre o seu alvo. Não importa se a notícia não foi exatamente investigada por você ou sua equipe, alguém falou, você reproduz, depois pede desculpas se for o caso  de ser mentira (claro que com menor visibilidade que a acusação). Se tiver um escândalo de corrupção, você fala dele. Para não dar muito na cara, você fala de todos os políticos envolvidos, mas só menciona a sigla partidária do partido que quer detonar. Se houverem escândalos nos quais o tal partido não esteja envolvido, dê um jeito de citar a sigla em qualquer contexto, por exemplo, na cidade X, do estado Y, governado pelo PT, os vereadores (sem sigla) desviaram milhões de reais da câmara municipal. Aí, você que mora na cidade ou conhece alguém que mora lá, relacionou qual partido ao escândalo? Muito bem, o PT!

Por favor, não me confunda, apesar de ser professora, não tenho provas nem convicção de que todos os professores sejam honestos. O mesmo funciona para o PT: apesar de eu ser simpatizante e não esconder isso de ninguém, não tenho provas nem convicção de que todos os filiados e simpatizantes sejam honestos. Em ambos os casos já tive notícias de mal feitos. Nem por isso  acho que ser professora ou simpatizante de determinado partido fazem de mim alguém que tende a fazer o mesmo tipo de coisa. A partir do momento em que há pessoas (enquanto espécimes de Homo sapiens) envolvidas, há problemas, erros e malfeitos. Não é por isso que eu tenho que largar minha profissão ou minha ideologia.

Leio muito sobre cognição e sobre as novas descobertas sobre o funcionamento do cérebro humano. Há estudos que sugerem que nosso cérebro sofre de um mal conhecido como “viés de disponibilidade”. Se você ouve a notícia de um mesmo assalto ou estupro em uma dada região da cidade repetida 20 vezes, seu cérebro não consegue distinguir entre 20 estupros e 20 vezes a notícia de um estupro, de modo que você passa a evitar aquela região, simplesmente pela repetição da notícia. Se os meios de comunicação divulgam 1000 vezes os 10 mal feitos de um determinado partido (no caso do PT) e noticiam apenas uma vez os 1000 malfeitos de outro, qual dos dois será mais corrupto na sua cabeça? Acertou quem chutou o mais noticiado. Não é que eles estejam te escondendo coisas (tenho convicção disso, mas como não tenho provas, prefiro não argumentar), é que eles escolhem o que você vai ouvir mais e te levam ao erro.

Mas voltemos ao que eu queria dizer desde o começo, eu queria falar da PEC 241. Está circulando o FB a notícia de que o golpista mor da nação vai oferecer uma festinha, um regabofe com comes e bebes (tudo do bom e do melhor) para nada menos que 400 deputados e respectivos agregados (esposas, filhos, assessores…). Esse jantar, a ser dado hoje, 09/10, tem como objetivo convencer os parlamentares a votar A FAVOR da PEC 241.


Eu fiquei pensando que hoje (e só hoje), eu queria ter outra profissão.

Eu queria ser deputada, para ser convidada e ter o prazer inenarrável de declinar do convite, só porque já me decidi contra essa atrocidade. Aliás, confio e tenho convicção de que minha deputada não vai à tal festinha…

Eu queria ser cozinheira do palácio (aliás, é o Jaburu ou a família real já foi transferida de mala, cuia e servidores para o Alvorada?). Se eu fosse cozinheira, provocaria problemas intestinais históricos na corja toda, só pra me divertir.

Eu queria trabalhar na manutenção dos banheiros do palácio. Assim, ao saber do problema intestinal destinado aos nobres convidados, daria um jeito de todos os banheiros estarem entupidos na hora da correria visceral.

Eu queria também ser garçonete, só pra assistir de camarote ao enredo e poder sair a tempo de não ter meus pés sujos de excremento, há como eu queria assistir…

Eu também queria ser manobrista. Deixaria todos os carros presos uns aos outros no estacionamento do palácio. Assim, no auge da dor abdominal, as pessoas ficariam presas no estacionamento, e a obra toda teria que ser feita ali, nos jardins do palácio.

Sem acesso ao palácio, eu queria estar em Brasília, para organizar um manifesto em frente à festa. Talvez impedindo a passagem dos carros e fotografando o lindo rostinho de cada parlamentar que tenha se dado ao desfrute de aparecer.

Sem acesso a Brasília, eu queria ser Marcela do País das Maravilhas, ou Marcela Adormecida, que, ao perceber o naipe do sapo que beijou, saísse do palácio, com Michelzinho e tudo para ensinar pro guri o que é ter dignidade, ainda que tardia.

Sem ser primeira-dama, manobrista, garçonete, encanadora ou cozinheira do Palácio (que nem sei qual é o atual, muito confuso isso tudo!) ou deputada, fico aqui mesmo, no meu sofá, desde o umbigo do mundo (é assim que vejo Viçosa, cercada pelas montanhas de Minas), escrevendo absurdos para ver se com esse tipo de linguagem consigo convencer mais alguém de que sofremos um golpe e que os que se apossaram do governo querem mais é que o povo tenha um bom dia (para inaugurar um eufemismo). A cara de pau é tão grande que oferecem uma festa milionária (há quem diga que custará mais de 30 milhões de reais aos cofres públicos) para convencer os deputados (representantes legítimos do povo) a ECONOMIZAR…

Bom dia pra todos nós, quando nos dermos conta de como foi a votação amanhã.