sábado, 26 de maio de 2012

Salários dos professores universitários...

Só para deixar bem claro porque os professores estão indignados, veja esta comparação do salário dos professores universitários com os salários de pesquisadores do governo. Em 1998 (em plena idade das trevas da educação, promovida pelo PSDB), professores ganhavam um pouco mais que os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). De lá pra cá, muita coisa mudou, inclusive o fato de que passamos a ganhar menos que estes profissionais. Nada contra estes pesquisadores, mas, se o negócio é valorizar a educação, tem alguma coisa muito errada nessa história...






clip_image002 fonte: Prof. Dr. Pierre Lucena, segundo o ADUFMAT-SSIND 


Veja a explicação completa do que aconteceu de 1998 pra cá neste link.

Quanto será que custou?


Quanto será que custam aos cofres públicos as campanhas de valorização do professor? Confesso que quando vi esta propaganda até fiquei comovida, pensei que a história de valorização fosse a sério mesmo... Depois pensei direito e não me lembro de ter ouvido nenhum jingle pela valorização da carreira de juiz (é claro! Eles ganham super bem, são valorizados no contracheque, não na televisão...)

Ano passado, os professores de Minas Gerais entraram em greve. Foi uma briga feia com o governo (PSDB, diga-se de passagem), que acabou não negociando adequadamente e ainda colocou a opinião pública contra os professores, com caríssimas propagandas em jornais e revistas do estado. O máximo da paródia com a cara dos professores mineiros foi a propaganda estrelada por Débora Falabella, no início deste ano...


Voltando às universidades, Mercadante (atual ministro da educação, e do PT, partido que eu achava que estava comprometido com a educação) tem convicção de que cumpriu o que foi prometido aos professores, mas não mencionou nada quanto ao retrocesso no adicional insalubridade, que muitos professores têm direito (laboratórios de pesquisa, contato com produtos tóxicos, cancerígenos etc). Na verdade, para alguns de nós, o aumento de 4% e a diminuição do auxílio insalubridade fez o salário DIMINUIR!



Fora isso, um dos argumentos do ministro é que há tempo para negociar, já que o prazo para concluir o orçamento de 2013 é 31/08. No ano passado, se bem me lembro, a greve foi suspensa porque não havia tempo hábil para a negociação (o movimento ganhou força em agosto, portanto não dava tempo mesmo). Por conta disso, o então ministro Fernando Haddad prometeu que negociaria a carreira docente em março. Ok, esperamos março, abril e maio, e nada foi decidido. A MP com o maravilhoso aumento de 4% veio às vésperas da deflagração da greve, de modo que o governo pode dizer com todas as letras que está cumprindo com tudo que foi prometido, conforme as palavras do ministro "quem faz acordo, cumpre acordo".



Bom, o sindicato TINHA uma reunião marcada para depois de amanhã, 28/05, mas já cancelou!




Acompanhe aqui o quadro atualizado da greve dos professores federais.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A prefeitura de São Paulo e a greve nas Universidades Federais

Ano passado houve um indicativo de greve nas Federais. O governo fez uma manobra esperta, convenceu os professores a não deflagrar a greve, com uma promessa explícita de negociar nossa carreira, além de um aumento de 4% em março de 2012, por medida provisória.

Neste meio tempo, o Ministério da Educação passou de Fernando Haddad para Aloizio Mercadante. Haddad quer ser prefeito da maior cidade do país, então não poderia deixar sua gestão com a mácula de uma greve nas Federais... Justamente nas universidades que adotaram o tão aclamado REUNI, orgulho do governo, que tem como meta educação para todos (pelo menos todos os que mal e porcamente aprenderam a escrever, porque sem isso, que está cada vez mais difícil de aprender no ensino médio e fundamental, não é possível, por enquanto, entrar na Universidade).

Bom, como agora o ministro mudou, não há mais o risco de associar a greve a Haddad, então não é mais necessário sentar para negociar com os professores a tão suplicada carreira docente (pra completar, há poucas universidades federais em São Paulo, a maioria é estadual, afastando ainda mais Haddad do problema). Além disso, a incorporação das gratificações no salário base e o aumento de 4% foram mandados para o congresso, ao invés de aprovados por MP já em março. Acho que a figura de Haddad não poderia ser esquecida, imagino que associar Haddad à greve em todas as mídias é essencial para que o governo ceda à negociação, principalmente porque a eleição é este ano...

Mudando um pouco o foco, gostaria de enfatizar aqui a minha humilde opinião sobre o assunto GREVE.

Como professora efetiva, é minha primeira greve. Em 2005 eu era professora substituta, não podia fazer greve, pelo que resolvi, para desespero dos estudantes da UFJF, terminar o curso de evolução de forma  condensada (meu contrato estava acabando, e a Universidade não tinha a menor perspectiva de contratar outro professor). Alguns certamente me odeiam até hoje por causa disso, mas tudo bem, todos sobreviveram... Como estudante, vi algumas greves acontecerem na UNICAMP. Eu me lembro bem que paravam APENAS as aulas da graduação, e todos entendiam isso: como é que um pesquisador vai entregar o relatório do CNPq ou da CAPES em branco porque o dito cujo estava em greve? Pode até fazer isso, sob pena de nunca mais ter um projeto aprovado, ou seja, morte acadêmica...

Vamos para o problema social disso: o governo fez tudo o que pode para aumentar o acesso à universidade pública. Muita gente entrou, muita gente que depende dos refeitórios e alojamentos da universidade (isso é muito bom, na mesma medida em que aumentou o número de vagas, garantiu, pelo menos na UFV, alimentação e alojamento para os estudantes carentes). Não sei se alguém se tocou disso, mas em momentos de greve  a pesquisa floresce (sobra tempo para pensar, para ir para o laboratório, para discutir os trabalhos com os estudantes, enfim, sobra tempo!). Acontece que os estudantes de iniciação científica (graduandos que fazem pesquisa com os professores) com menor poder aquisitivo ficam impedidos de vir Universidade. Sim, impedidos, pela falta do refeitório, que garante três refeições por dia fora de casa... O resultado é o aumento das diferenças entre os de maior poder aquisitivo e os que não tiveram tanta sorte... Se por um lado entrar na universidade se tornou um direito menos restrito à classe mais abastada, a possibilidade de se manter na universidade em tempos de greve faz com que esta mesma classe se desenvolva melhor. O resultado? Adivinha quem, no final da graduação, vai ter um currículo melhor...

O pior dessa situação é que o critério, no fim das contas, parece meritocrático, mas na verdade é social... Estudantes mais pobres simplesmente não podem prescindir do refeitório. Ok, dá para fazer uma vaquinha entre os mais abastados e bancar o almoço dos menos favorecidos... Quer dizer que o estudante tem que entrar na universidade e ganhar esmola pra poder ficar? É isso mesmo que pensamos sobre universidade para todos?

É claro que tem quem use o argumento da falta do refeitório para simplesmente não aparecer na universidade. Sim, esta classe sempre existiu. Tem sempre uma parcela dos estudantes que não sabe porque se matriculou no curso que se matriculou, acha que a universidade é uma fábrica de diplomas e não está interessada em aprender absolutamente nada por aqui... Para esta classe, a greve é até legal, um período para ficar oficialmente e impunemente sem fazer nada mesmo. Como faremos para separar, depois, aqueles que não investiram na formação extra-classe, nos períodos de greve, por falta de recursos ou por falta de vontade? Minha experiência me diz que não nos preocuparemos com isso... Talvez alguém se lembre disso, e aí teremos PÓS-GRADUAÇÃO PARA TODOS... O currículo não poderá ser mais avaliado, e, portanto, TODOS, mesmo quem nem gosta de estudar, teriam o DIREITO de cursar pós graduação...

Temos que tomar muito cuidado com isso, de uns tempos pra cá, pós-graduação deixou de ser uma opção dos indivíduos mais interessados em aprofundar seus conhecimentos e passou a ser emprego temporário daqueles que não têm outra opção por não terem se formado adequadamente!

Voltando para o foco inicial: ao permitir que os professores entrem em greve pela recusa em negociar, o governo, indiretamente, está promovendo a definição de mérito acadêmico por restrições econômicas, o que, a meu ver, é escandaloso!!! É por isso que estou pedindo, associem a figura de Fernando Haddad a esta greve. A prefeitura de São Paulo é muito importante para o governo, talvez assim, com algo que eles realmente prezem (ou prezem mais que à educação), teremos como forçar a negociação!


sábado, 5 de maio de 2012

Veta tudo, Dilma!

Ok, vivemos numa democracia e a pior coisa que um presidente pode fazer é vetar uma decisão do Congresso Nacional.  O que realmente me enlouquece é pensar que votamos nos deputados e senadores que aprovaram a mudança do código florestal do jeito que fizeram. Não sou contra a democracia, muito pelo contrário, até acredito que, dos modelos que existem e são praticados, é o menos pior. Por outro lado, não me sinto representada pelos deputados e senadores em muitas questões. Será mesmo que esta gente representa a maioria? (Ou será que a maioria deles representa a maioria do povo brasileiro?).

Nesse jogo político que existe no Brasil (no meu parco entendimento disso), ganha a eleição aquele que faz a campanha mais cara.... Bom, campanha cara significa campanha bancada por alguém que tem dinheiro e intenções de ganhar ainda mais dinheiro. Há quem faça doações de campanha por acreditar nas propostas de algum partido ou candidato (sim, isso existe e eu já vi), mas, infelizmente, a impressão que tenho é que este tipo de doação não faz nem cócegas no orçamento total de uma campanha política, de modo que a maioria dos senhores que estão no congresso são mesmo reféns de interesses econômicos (muitas vezes próprios, outras vezes de empresas que os ajudaram a se eleger. Para o povo faz bem pouca diferença).

Voltando para o código florestal... Quem estes caras pensam que são para colocar interesses pessoais e lucro de curto prazo na frente dos interesses do país? Li recentemente um ótimo documento sobre a importância das florestas no mundo (A história das florestas - John Perlin)  e sou obrigada a concordar com alguns dos empresários mais ricos deste país que o novo código florestal é medieval! Quando eu penso que na Grécia antiga os governantes perceberam que devastar tudo seria o caos, eu me pergunto se alguém aprende mesmo alguma coisa com a história ou se o destino da humanidade é dar cabeçadas no mesmo toco até que todos morramos de hematomas cerebrais! A invenção da escrita e os documentos disponíveis parecem fazer pouca ou nenhuma diferença na cabeça oca dos nossos legisladores...

Neste caso, e acho bom que se diga, as coisas devem ser avaliadas caso a caso, se eu fosse presidente, vetaria tudo e mandaria tudo de volta para o congresso. Com isso, o Brasil ganha tempo, e o código poderia ser votado depois do Rio +20. Com que cara o Brasil (na figura da própria Dilma) iria receber toda esta gente interessada em garantir um ambiente minimamente decente para os nossos descendentes? (Há quem diga que a Rio +20 é só mais uma manobra capitalista para "manter a colônia na coleira", lamentável, mas real! Sugiro que antes de respeitar um pesquisador como sumidade no que quer que seja, que seja consultado o seu curriculo Lattes, que é sempre preenchido pelo próprio pesquisador...) Há pouco menos de um ano, Dilma ameaçou vetar o código, que chamou de anistia aos desmatadores,  o que felizmente confirmou há poucos dias.

Sim, sou suspeita para falar. Se dependesse de mim, preservaria tudo mesmo, sou bióloga, tenho muito interesse em compreender os padrões e processos evolutivos que ocorreram não só nas florestas, mas no cerrado, nos campos de altitude, na caatinga, nos pampas... Gostaria que tudo fosse preservado, que a população e a produção de lixo diminuísse  pela força de vontade das pessoas em segurar a onda em se reproduzir e consumir menos!

Dilma, veta tudo, nem que seja para o congresso passar vergonha. Uma atitude dessas vai desagradar a muita gente, sim, mas a faria entrar para a história como alguém que genuinamente se preocupa com o país e não com políticas de curto prazo, que nunca resolveram nada. Por outro lado, vejo pessoas se mobilizando (mesmo que on-line, que é o jeito moderno de mobilização) para apoiar o veto.

Deixo aqui os links para estas campanhas:

http://www.avaaz.org/po/brasil_veta_dilma_a/?fvcwVab&pv=14
http://www.facebook.com/events/371391646241045/