segunda-feira, 14 de maio de 2012

A prefeitura de São Paulo e a greve nas Universidades Federais

Ano passado houve um indicativo de greve nas Federais. O governo fez uma manobra esperta, convenceu os professores a não deflagrar a greve, com uma promessa explícita de negociar nossa carreira, além de um aumento de 4% em março de 2012, por medida provisória.

Neste meio tempo, o Ministério da Educação passou de Fernando Haddad para Aloizio Mercadante. Haddad quer ser prefeito da maior cidade do país, então não poderia deixar sua gestão com a mácula de uma greve nas Federais... Justamente nas universidades que adotaram o tão aclamado REUNI, orgulho do governo, que tem como meta educação para todos (pelo menos todos os que mal e porcamente aprenderam a escrever, porque sem isso, que está cada vez mais difícil de aprender no ensino médio e fundamental, não é possível, por enquanto, entrar na Universidade).

Bom, como agora o ministro mudou, não há mais o risco de associar a greve a Haddad, então não é mais necessário sentar para negociar com os professores a tão suplicada carreira docente (pra completar, há poucas universidades federais em São Paulo, a maioria é estadual, afastando ainda mais Haddad do problema). Além disso, a incorporação das gratificações no salário base e o aumento de 4% foram mandados para o congresso, ao invés de aprovados por MP já em março. Acho que a figura de Haddad não poderia ser esquecida, imagino que associar Haddad à greve em todas as mídias é essencial para que o governo ceda à negociação, principalmente porque a eleição é este ano...

Mudando um pouco o foco, gostaria de enfatizar aqui a minha humilde opinião sobre o assunto GREVE.

Como professora efetiva, é minha primeira greve. Em 2005 eu era professora substituta, não podia fazer greve, pelo que resolvi, para desespero dos estudantes da UFJF, terminar o curso de evolução de forma  condensada (meu contrato estava acabando, e a Universidade não tinha a menor perspectiva de contratar outro professor). Alguns certamente me odeiam até hoje por causa disso, mas tudo bem, todos sobreviveram... Como estudante, vi algumas greves acontecerem na UNICAMP. Eu me lembro bem que paravam APENAS as aulas da graduação, e todos entendiam isso: como é que um pesquisador vai entregar o relatório do CNPq ou da CAPES em branco porque o dito cujo estava em greve? Pode até fazer isso, sob pena de nunca mais ter um projeto aprovado, ou seja, morte acadêmica...

Vamos para o problema social disso: o governo fez tudo o que pode para aumentar o acesso à universidade pública. Muita gente entrou, muita gente que depende dos refeitórios e alojamentos da universidade (isso é muito bom, na mesma medida em que aumentou o número de vagas, garantiu, pelo menos na UFV, alimentação e alojamento para os estudantes carentes). Não sei se alguém se tocou disso, mas em momentos de greve  a pesquisa floresce (sobra tempo para pensar, para ir para o laboratório, para discutir os trabalhos com os estudantes, enfim, sobra tempo!). Acontece que os estudantes de iniciação científica (graduandos que fazem pesquisa com os professores) com menor poder aquisitivo ficam impedidos de vir Universidade. Sim, impedidos, pela falta do refeitório, que garante três refeições por dia fora de casa... O resultado é o aumento das diferenças entre os de maior poder aquisitivo e os que não tiveram tanta sorte... Se por um lado entrar na universidade se tornou um direito menos restrito à classe mais abastada, a possibilidade de se manter na universidade em tempos de greve faz com que esta mesma classe se desenvolva melhor. O resultado? Adivinha quem, no final da graduação, vai ter um currículo melhor...

O pior dessa situação é que o critério, no fim das contas, parece meritocrático, mas na verdade é social... Estudantes mais pobres simplesmente não podem prescindir do refeitório. Ok, dá para fazer uma vaquinha entre os mais abastados e bancar o almoço dos menos favorecidos... Quer dizer que o estudante tem que entrar na universidade e ganhar esmola pra poder ficar? É isso mesmo que pensamos sobre universidade para todos?

É claro que tem quem use o argumento da falta do refeitório para simplesmente não aparecer na universidade. Sim, esta classe sempre existiu. Tem sempre uma parcela dos estudantes que não sabe porque se matriculou no curso que se matriculou, acha que a universidade é uma fábrica de diplomas e não está interessada em aprender absolutamente nada por aqui... Para esta classe, a greve é até legal, um período para ficar oficialmente e impunemente sem fazer nada mesmo. Como faremos para separar, depois, aqueles que não investiram na formação extra-classe, nos períodos de greve, por falta de recursos ou por falta de vontade? Minha experiência me diz que não nos preocuparemos com isso... Talvez alguém se lembre disso, e aí teremos PÓS-GRADUAÇÃO PARA TODOS... O currículo não poderá ser mais avaliado, e, portanto, TODOS, mesmo quem nem gosta de estudar, teriam o DIREITO de cursar pós graduação...

Temos que tomar muito cuidado com isso, de uns tempos pra cá, pós-graduação deixou de ser uma opção dos indivíduos mais interessados em aprofundar seus conhecimentos e passou a ser emprego temporário daqueles que não têm outra opção por não terem se formado adequadamente!

Voltando para o foco inicial: ao permitir que os professores entrem em greve pela recusa em negociar, o governo, indiretamente, está promovendo a definição de mérito acadêmico por restrições econômicas, o que, a meu ver, é escandaloso!!! É por isso que estou pedindo, associem a figura de Fernando Haddad a esta greve. A prefeitura de São Paulo é muito importante para o governo, talvez assim, com algo que eles realmente prezem (ou prezem mais que à educação), teremos como forçar a negociação!


Um comentário:

José Carlos disse...

http://www.advivo.com.br/blog/george-martins/desmascarando-o-aumento-salarial-e-a-mp-568