quarta-feira, 29 de maio de 2013

"Etnias" brasileiras e o governo federal...

Estou morrendo de vontade de comprar uma briga com o Poder Público Federal. É uma pena, não vou poder, porque não recebi um comunicado da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas que muitos dos meus colegas receberam... Só para esclarecer, o comunicado foi recebido em casa ou no escaninho de vários professores e funcionários aqui da UFV.

Na primeira página, o documento diz que a mando do Ministério do Planejamento, a UFV precisa corrigir certas "inconsistências" referentes à "Etnia" de seus servidores. Confesso que isso em princípio não fez o menor sentido pra mim. O documento diz ainda que o servidor que não preencher o questionário anexo até o dia 10 de junho terá o ponto cortado (fica sem salário até resolver o problema da "Etnia").

Na página seguinte, o servidor deve marcar com um X a lacuna em frente à "Etnia" a que pertence, e as opções são: Branca, Negra, Amarela, Indígena ou Parda.

Alguém me explica porque o documento pede "Etnia" e dá opções de cores? (nem são cores, até onde sei, "indígena" também não é cor, acho que é o que chega mais perto de "Etnia" de todas as opções disponíveis...). Não há opção de "não desejo responder" conforme também consta do Lattes (sim, para atualizar o curriculum Lattes, que é essencial pra documentar a atividade dos pesquisadores, e sem o qual a probabilidade de conseguir qualquer financiamento para pesquisa é zero, é necessário indicar a "cor da pele" e não a "Etnia") e o servidor tem que escolher a qual "Etnia" pertence, sob pena de não receber seu salário.

Fui atrás e vi que a Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo segundo, proíbe a "distinção, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação". Como a declaração não fala de "Etnias", fiquei com a impressão que eles puseram "Etnias" porque "cores" e "raças" ferem a declaração... Será que é tão raso assim o raciocínio??? Se for, é a mesma coisa que dizer que não podemos perguntar aos cidadãos suas preferências por consumo de carne, então perguntaríamos: "Qual a sua fruta preferida? ( ) boi; ( ) frango ou ( ) porco???"

Francamente, como geneticista, formada bem depois da segunda guerra mundial (momento na história em que as pessoas foram separadas por cor, religião e raça e deu no que deu), não consigo aceitar esse tipo de imposição. Um amigo, que entende de sociologia, afirmou que trata-se de assédio moral.

Fiquei também me perguntando porque não recebi o papel. Acho que eles concluíram, pelo meu sobrenome, ou minha foto da ficha cadastral que sou amarela e não se deram ao trabalho de me consultar. Gostaria de deixar claro que não me considero amarela, nem branca, e que isso não faz a menor diferença pra mim. Por que isso faria diferença pra alguém? Alguém me explica, por favor!