terça-feira, 10 de julho de 2007

De que cor você é?

Toda essa discussão sobre cotas nas universidades e as inevitáveis discussões sobre racismo acabaram gerando uma pergunta na minha cabeça: de que cor você é? De que cor eu sou? Como quase todo brasileiro tenho uma certa dificuldade de saber de que cor eu sou (não que eu ache que isso seja essencial, mas enfim...). Acho que esse deveria ser um ponto a ser debatido na defesa ou na rejeição das cotas para negros. Como eu tinha colocado no meu post anterior, um dos grandes problemas é quem decide quem é negro e quem é branco, se eu não consigo saber de que cor sou, será que mais alguém tem autoridade pra isso? Ter um pai japonês e uma mãe que parece branca me faz japonesa? Ou branca? Eu poderia ser classificada como sendo amarela ou branca para algum procedimento legal? Acredito que tem gente que sabe de que cor é, acho até que consigo saber de que cor são algumas pessoas, mas não consigo diferenciar a maioria. O que é ser mestiço, mulato, pardo? O que significam estas categorias? São de fato categorias? Dá pra medir ou essa é uma questão social? Uma vez ouvi de um menino que a mãe dele é branca e o pai é negro, e que portanto ele é negro. Ele é negro? Isso me lembra um artigo do Mayr que fala de pensamento tipológico e populacional. Segundo ele todas as teorias racistas foram construídas com base em encontrar características típicas de uma raça que a diferenciariam das outras. De fato os eugenistas faziam medidas de tudo o que você imaginar para determinar de que raça era cada pessoa... Li um trabalho relativamente recente falando das mitocôndrias (herança materna) e dos cromossomos Y (herança paterna, esclusivos dos machos da espécie) de brasileiros. O melhor de tudo é que parece que temos mitocôndrias de origem africana e asiática, enquanto temos cromossomos Y europeus. A conclusão dos pesquisadores é que isso é fruto de estupros e relacionamento extra-conjugais dos brancos com negras e índias. Ou seja, trocando em miúdos, somos todos descendentes de vítimas e algozes.
Isso foi só pra colocar lenha na fogueira... Não acredito em diferenças biológicas relevantes entre pessoas de "raças" ou "cores" diferentes. Como disse o Enio em um comentário, esse negócio de cotas para uma raça parece que está chamando alguém de inferior ou menos capaz. Acho que gente menos capaz não existe, mas existe sim gente que teve menos oportunidade, e me convenci que é essa gente que merece alguma atenção imediata como bem disse o Felipe, a Fernanda e a Juliana. Se for verdade mesmo que há mais negros entre os mais pobres, então cotas para pobres que sejam bem gerenciadas e fiscalizadas deveriam mesmo ser implementadas e certamente beneficiariam mais negros e pardos do que brancos, se é que isso significa alguma coisa...
Só pra não ficar a impressão de que tenho algum problema de vista, eu consigo ver diferenças entre as pessoas sim, só queria viver num mundo em que estas diferenças fossem só superficiais e que nada pudesse ser decidido em função delas. Ufa, acabou! Podem bater à vontade!