terça-feira, 25 de dezembro de 2007

perspectiva otimista...

Pela primeira vez em anos acho que estou tendo uma perspectiva otimista a respeito da humanidade. Quanto mais leio sobre religiões e do quanto elas são nocivas, mais me convenço que os males da humanidade não estão diretamente relacionados à natureza humana e sim ao maldito hábito de formar grupos. Não dá pra negar, porém, que o maldito hábito de formar grupos faz parte da natureza humana, mas ter consciência disso é o primeiro passo para a libertação.

É bem verdade que o que ando lendo tem me deixado bastante inspirada. Este ano dediquei boa parte do meu tempo livre à leitura de autores que se propõe a ajudar a compreender o comportamento humano em tudo o que é relativo à moral, à ética e ao viver bem, tudo à luz da biologia, o que me fez perceber que as pessoas não precisam mesmo de nenhum tipo de religião para serem no mínimo razoáveis umas com as outras. Mais do que isso, tratar bem outras pessoas, e sentir coisas com compaixão, fazem parte da natureza humana, e não é necessário que nenhuma religião dite nada disso.

Gostaria de recomendar fortemente a leitura casada dos dois últimos livros que caíram na minha mão este ano. Um fala dos males da religião e o outro das origens biológicas da virtude. "Carta a Uma Nação Cristã", de Sam Harris, é leitura obrigatória para qualquer pessoa que se sinta razoavelmente esclarecida, e devia estar presente, em várias cópias, em todas as bibliotecas do Planeta, pelo menos da parte cristã dele. Acho até que o autor devia escrever uma versão para o Islã: Carta a uma Nação Muçulmana. É só inverter os argumentos e todos eles cabem direitinho. É tão evidente a falácia das duas facções que qualquer cristão consegue duvidar das visitas do Anjo Gabriel a Maomé, assim como qualquer muçulmano olha os cristãos no mínimo com curiosidade a respeito da ressurreição de Cristo.

O outro livro, de Matt Ridley (que aliás é um sujeito que escreve sobre comportamento humano e cujos argumentos sempre me agradaram muito), "As Origens da Virtude, um estudo biológico da solidariedade", mostra, com argumentos consistentes e bem defendidos, que por sermos animais sociais por excelência, a virtude não só está em nossas entranhas, como foi necessária ao longo do tempo, e mais, foi selecionada em nossa espécie. Juntando os argumentos de Ridley com a publicação recente de Hawks e colaboradores (PNAS, dez/2007 - Recent acceleration of human adaptative evolution), fica mais fácil entender a natureza humana. Nunca me convenci muito da idéia de que as pessoas são necessariamente egoístas e que só pensam em si. Tenho bonitos e honrosos exemplos de autruísmo que me mostram que isso não pode ser universalmente verdadeiro. Por outro lado, sempre me incomodou a teoria do gene egoísta do Dawkins. Ler os argumentos de Ridley foi realmente esclarecedor, deu pra acomodar perfeitamente o gene egoísta com os motivos egoístas de cada um e ainda assim ver excelentes bons motivos para a cooperação, as estratégias de paz, o autruísmo, a boa vontade entre as pessoas e tudo de bonito que de fato existe na humanidade.

Não, não estou louca e não fechei os olhos às loucuras de algumas pessoas. O pior é constatar que os grandes exemplos atuais , e de outros tempos, de intolerância, deflagração de guerras e matanças indiscriminadas, têm tudo a ver com a formação de grupos (o conceito de NÓS e ELES), e pior, de grupos religiosos. Ter um conjunto de dogmas nos quais se acredita e que são tratados como sagrados, que são absolutamente incompatíveis com outro conjunto de dogmas seguidos por outras pessoas, pode fazer com que tratemos os integrantes do outro grupo como cidadãos de segunda linha, ou como humanos de segunda linha, sub-humanos. Infelizmente é isso que acontece. O fato de ter a certeza de que os outros não vão para o céu ou pro paraíso, permite que qualquer coisa seja feita contra os infiéis. Se a própria divindade pode mandar os infiéis pro inferno ou pro raio que os parta, porque nós, que sabemos a verdade, soprada pela própria divindade, não podemos? O próprio Jesus dizia: "amai ao próximo como a ti mesmo", o que seria um excelente guia moral, não fosse o fato de que o próximo deveria ser um Judeu e não um Gentio (ou seja, amai ao próximo, mas não àquele que está um pouco mais distante de ti). Tanto é assim que a escravidão foi, por muito tempo, não só tolerada quanto incentivada e utilizada pela Igreja. Pela nossa natureza, só nos é possível escravizar aqueles aos quais não consideramos humanos.

Existe também o lado ritualístico que a maioria das religiões nos proporciona. Sim, somos seres rituais, apesar de alguns de nós não gostarmos nada disso. Gostamos de música e de festas provavelmente porque isso estreita os laços entre as pessoas. Talvez venha daí a necessidade de comemorarmos nascimentos, casamentos e de nos juntarmos, de uma maneira festiva, mas comedida, nos velórios e enterros. Vi, há muitos anos, um filme, chamado Baraka (Ron Fricke, 1992), que mostra, entre outras coisas, cenas de rituais das mais diversas religiões. Acho que o objetivo do diretor era mostrar a humanidade existente nestes rituais. Apesar de bonitos (e a beleza é uma coisa que valorizamos ao extremo desde que todas as necessidades básicas estejam satisfeitas), estes rituais mostram um lado um tanto quanto estranho da nossa natureza: a capacidade de crer que sacrifícios podem de alguma forma agradar a um suposto criador; que usar um determinado tom de roupa é bom e outro é ruim; que se ajoelhar ou levantar os braços faz com que sejamos escutados por nossa divindade; que dançar de uma determinada maneira ou vestindo determinadas roupas vai fazer chover, ou parar de chover; que ir a um determinado local purificará nosso espírito, seja lá o que tenhamos feito de mal aos outros durante a vida; que se gritarmos todos juntos dentro de um templo Deus intercederá e fará um deficiente físico andar, ou um cego voltar a enxergar. Na verdade o que mais me chamou a atenção no filme todo foi a última cena, que mostrava macacos da neve tomando banho quente de águas termais aquecidas por um vulcão. Não sei porque cargas d'água o olhar do macaco mostrado em close me pareceu, de longe, o mais inteligente dos olhares mostrados no documentário.

Bom, não vou me estender mais por hoje... Por coincidência é Natal, uma data preciosa para os cristãos. Nesta data eles deveriam comemorar o nascimento do Messias, que em tese trouxe paz para o mundo. No lugar disso, cultuamos o que sempre nos foi caro, a festa, a reunião de parentes e amigos e a troca de presentes. Antes de ser uma invenção do capitalismo, a troca de presentes deve ter sido outra maneira de aproximar as pessoas, e estreitar laços, de favorecer a cooperação e de garantir que em momentos de necessidade, podemos contar com os presenteados. Uma maneira fria de ver as pessoas? Talvez. Isso não tira de mim a vontade de estar com os meus, nem de presenteá-los. Também não faz de mim alguém que necessariamente quer algo em troca, mas alguém que sabe que sempre pode e sempre poderá contar com eles (e obviamente deixo muito claro que eles podem contar comigo).

Bons Rituais a todos, que o ano que vem (outra ótima invenção da humanidade, a idéia de recomeço) seja excelente pra todo mundo!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

no fundo os humanos são pacifistas...

Depois tem gente que reclama da vida e diz que o mundo é cruel...
Pelo menos os humanos (em média) sabem separar guerra de amor.



No fundo tudo que é biólogo sabe que estas coisas acontecem, mas ver é outra história. Viva o YouTube!