Desde que fui contratada na Universidade não tinha tido o privilégio de dar aulas na pós graduação, não que eu prefira dar aulas na pós, o que prefiro é ter alunos interessados, já que a disciplina não é obrigatória e portanto faz quem tem interesse. Como estou dando aula sobre uma das coisas que mais gosto de fazer, a minha satisfação aumenta ainda mais.
O grande barato é poder recomendar artigos e outras leituras para que os alunos leiam e possamos discutir em sala de aula, o que quebra a rotina enfadonha de dar aulas, falar "mais que pobre na chuva" como dizem os meus amigos mineiros e esperar que os pobres alunos consigam absorver pelo menos alguma coisa. Gosto mais de diálogos que de monólogos, especialmente quando se trata dos meus monólogos.
Outra coisa que gosto de fazer também e imbuir um certo espírito crítico nos alunos, de modo que possam ler textos acadêmicos de primeira qualidade e ainda assim conseguir contestar, pensar a respeito e concluir de forma livre e independente sobre o que foi lido (e chegar à conclusão de que poderiam ter feito melhor, este é o auge!). Como nesta disciplina eu ensino basicamente a construir filogenias baseadas em moléculas (filogenia molecular), é ainda mais fácil mostrar as limitações dos métodos de forma a retirar o aspecto impositor e doutrinário que as árvores filogenéticas parecem ter sobre os biólogos em geral.
Bom, durante uma discussão, onde eu estava enfatizando muitas das limitações dos métodos filogenéticos, um aluno me perguntou sem mais delongas: "se tem tanta limitação assim, porque deveríamos perder nosso tempo estudando evolução com estes métodos?"
Boa pergunta... Ao mesmo tempo que é boa, tem uma certa dose do preconceito de que a ciência tudo pode e que as respostas são absolutas. Nossa história escrita (do Homo sapiens) mostra uma série de interpretações errôneas sobre o mundo que em seu momento foram úteis para descrever fenômenos naturais, fazer previsões e mesmo fazer avançar tecnologias que no fim das contas aumentaram nosso tempo e qualidade de vida. Talvez os métodos filogenéticos não sejam mesmo a melhor maneira de estudar evolução, talvez tenhamos que pensar em novas formas ou resgatar formas antigas, mas por hora, apesar de todas as limitações conhecidas e as outras que ainda não percebemos, é infelizmente uma das melhores ferramentas que dispomos. Talvez todos estes estudos no final se mostrem errados mesmo e vamos ter que começar a estudar tudo de novo (e acredite, alguém vai se deliciar em começar de novo!)
Existe porém uma esperança de que nem todas as respostas estejam erradas e que possamos aproveitar parte deste conhecimento para poder compreender melhor a evolução da vida. É nesta esperança que eu me agarro ao estudar cada vez mais organismos e tentar retirar algum aspecto geral, em termos de padrões e processos, destes estudos.(Essa é em homenagem ao meu professor de evolução, que me ensinou que o que importa em evolução são padrões e processos, muito mais do que qualquer detalhe sobre qualquer grupo de organismos em particular).
Bom, onde eu queria chegar mesmo é num plágio declarado a um ensaio do Asimov que li outro dia: neste ensaio ele falou de várias importantes descobertas da ciência que em princípio foram tratadas como inúteis e risíveis. No comecinho do ensaio ele cita uma cena famosa atribuída a Aristóteles, que quando perguntado por um aluno da finalidade de se aprender filosofia e matemática o mandou embora, não sem antes dar-lhe uma moeda para que o aluno não ficasse com a sensação de que se esforçou tanto por nada...
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