É... a gente tenta se atualizar, tenta saber sempre das últimas notícias, pelo menos do micro universo o qual achamos que temos um mínimo de domínio, mas sempre acaba levando sustos. Hoje me surpreendi duas vezes ao ler o Jornal da Ciência: descobri que o que disse ainda ontem aos meus alunos que estava em estudo e que ainda levaria um bom tempo pra ser descrito foi descrito na Nature de duas semanas atrás... Lamentável não saber disso. Me explico: estava dando aula sobre expressão gênica, ou seja, como as células fazem para saber quais proteínas vão produzir (grande parte das proteínas são tecido-específicas). Um dos passos disso é o que os geneticistas chamam de "splicing" alternativo. Sem entrar em detalhes para os leigos (perdão, mas a matéria de Fernando Reinach no Jornal da Ciência é bem elucidativa)cada RNA mensageiro pode ser editado de forma a ser o molde para diversas proteínas diferentes, tudo depende de como é editado (que pedaços são retirados e que pedaços são mantidos). Bom, após explicar este lindo processo (com um pouco mais de detalhe)afirmei, por pura ignorância, que ninguém sabia como era regulado. Bom, resulta que descobriram, e não é tão complicado assim, tanto que agora eu vou ter que voltar e explicar isso pros meus alunos. Só espero que eles consigam sentir o quão viva está a ciência.
A segunda surpresa foi por causa de outra matéria da Nature (mas essa felizmente foi de ontem...): o alinhamento de 1% do genoma humano com o DNA de outros mamíferos revelou que grande parte do DNA que consideramos "lixo" tem mais restrições às mudanças que parte do DNA utilizado como molde para a produção de proteínas. Ora, se é mais conservado que o esperado, então estamos diante de um fato que nos obriga a estudar melhor este "lixo" todo. Sempre achei que não sabíamos tudo a respeito do DNA, mas sempre tive convicção de que grande parte dele era lixo mesmo (simplesmente porque, segundo a teoria da evolução pela seleção natural, não há pressão para que um DNA sem função seja expulso das células). Bom, diante dos novos fatos, somos obrigados a estudar os outros 99% do DNA só para saber se o padrão se mantém ou se grande parte do DNA é lixo mesmo.
Como comentou uma aluna minha ainda ontem: "a gente estuda, estuda e fica a anos-luz de distância do que gostaria". É, é insana mesmo essa corrida, mas o que seria da humanidade se não fossem as questões a ser respondidas?
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