sexta-feira, 15 de agosto de 2008

7 pecados - a inveja

Ontem assisti a uma palestra do Zuenir Ventura, aqui mesmo, no auditório da UFV. Muito boa a palestra, além de muito istrutiva, muito divertida... Ao ser perguntado sobre como fora escrever Inveja-Mal Secreto, o autor afirmou que foi muito difícil escrever sobre isso, já que ele não conseguiu encontrar ninguém que se considerasse invejoso. Ele comentou que perguntou a um taxista se ele tinha inveja de alguém e ouviu na lata: "não senhor, eu sou é invejado!". É simplesmente um sentimento que ninguém em sã consciência assume em público, e quase ninguém assume nem para si mesmo... Por que será? Será que as pessoas simplesmente não sentem inveja ou será que é um sentimento tão vergonhoso que ninguém tem coragem de assumir?

Fiquei com isso na cabeça... Depois comecei a pensar nos sete pecados capitais e me veio uma luz: estes pecados estão diretamente relacionados com comportamentos que tivemos de assumir durante nossa evolução (enquanto espécie).

No caso da inveja, que é um sentimento mesquino e vil, o invejoso fica infeliz com a felicidade alheia. É como se a felicidade do invejoso dependesse da infelicidade do outro. Quer coisa mais politicamente incorreta que a inveja? (é, hoje em dia ser politicamente incorreto é muito pior que ser pecador ou vender a alma ao diabo).

Vou tentar explicar o cenário que me veio à mente: imagine um ser inteligente em um ambiente hostil, onde ele além de precisar caçar para sobreviver, ainda precisa atrair as fêmeas, sob o risco de não deixar descendentes e ter seus genes podados da face da Terra pelo efeito da seleção natural. Se reproduzir era então mais importante que tudo (em especial para os machos, para as fêmeas o problema é tradicionalmente menor). Agora imagine que este ser inteligente tem um rival que é mais forte, mais bonito, caça melhor e atrai mais fêmeas. É evidente que este rival precisa ser eliminado, o mais rápido possível. Fiquei pensando se a inveja não nasceu da necessidade de eliminar rivais brilhantes demais, que são bons em tudo, são bonitos e ainda atraem todas as fêmeas.

Neste ambiente ancestral, talvez matar um rival não fosse lá muito bem aceito pelo resto da tribo, em especial se esse rival é tão brilhante assim. No entanto, matar o rival na surdina pudesse ser uma solução razoável. E mais, é possível que o rival não representasse uma ameaça para apenas um homem e sim para vários.

Outra coisa que me veio à mente e me entristeceu um pouco, é que somos descendentes desses homens que se juntaram para matar criaturas belas e brilhantes em nome da competição. Será que a humanidade não poderia ser melhor em vários sentidos? O que me parece em relação à inveja, é que a herdamos e estamos condenados a sentir inveja, uns mais que outros, mas condenados. No ambiente atual as coisas são mais complicadas, não dá pra sair por aí armando emboscadas para os rivais. É preciso conviver com pessoas absolutamente mais bonitas e brilhantes que nós. É aí que acho que mora a tal da inveja, na constatação de que sempre há alguém melhor que eu em várias coisas e na outra constatação, a de que não posso fazer nada para eliminá-lo.

É evidente que há quem faça. Há quem mate, há quem machuque, há quem tire do caminho. Mas a maioria das pessoas não faz nada disso, a maioria nem admite que sente, mesmo que lá no fundo e de forma inofensiva, uma pontinha de inveja de outras.

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