quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ainda mais lamentável...

Mesmo depois de ter discutido com meus alunos o papel lamentável que fizeram ao copiar os testes que deveriam ter sido usados para aprender a matéria (um recurso didático, que poderia ser melhor aproveitado), ainda tenho que pedir silêncio na sala de aula...

Já me disseram que este esquema de aulas está fadado ao fracasso: estudantes todos sentadinhos escutando o que o professor tem a dizer. Disseram que a cabeça deles funciona diferente da nossa, que são cidadãos multi-tarefa, capazes de abrir milhares de "janelas" ao mesmo tempo e prestar atenção a todas elas, ao mesmo tempo, agora!

Será???

Outro dia tive que pedir licença para uma estudante que estava assistindo aula com um notebook ligado, de modo que ela não me via. Quando perguntei o que estava fazendo, disse que estava acompanhando a minha aula e olhando outros sites. Fico me perguntando se dá pra aprender desse jeito...

Ok, partamos do princípio que dá pra aprender deste jeito. Como é que eu, que tenho uma cabeça uni-tarefa, conseguirei avaliar uma turma inteira (60 de cada vez) de cidadãos multi-tarefa? Já disse e vou repetir sempre: sou contra provas, não acho que provas sejam indicativo de coisa alguma. No entanto, quando tentei outro tipo de avaliação fui surpreendida por uma falta de honestidade horripilante... Alguém tem uma solução para o meu problema que não seja desencantar com o ensino, largar tudo e ir vender melancia na praia?

Outro dia assisti a uma palestra bastante edificante de um professor aqui da universidade. Ele fez um apanhado de dados ao redor do mundo, e constatou que os jovens de hoje, até completar 30 anos, terão passado por pelo menos 14 empregos diferentes... O que raios isso significa?

Estou perdida neste mundo multi-mídia, de pessoas multi-tarefa, que conseguem pensar em futebol, novela, big-brother, dinheiro, fama, amigos, formas de colar nas provas, como copiar exercícios, como engabelar os outros...

A minha pobre mente uni-tarefa já tem que preparar aula, pedir silêncio, preparar provas, corrigir provas, cuidar dos trabalhos que tenho que escrever e ainda lamentar a existência de pessoas multi-tarefa... Estou ficando estressada com isso...

3 comentários:

Nelson disse...

Haha, excelente o post Karla. Lido com um pouco de atraso todavia ;-)
Mas tb tem outra coisa, aí, eu acho, que é a falta de educação, né... pq ficar com o note ligado é dureza. Eles tem é que usar a mente multitarefa o a hiperfacilidade de acesso á informação pra pensar criticamente sobre a aula, perguntar, debater, pensar enfim. A pergunta que não vejo tentarem responder é se o interesse pelos alunos aumentou com a facilidade deles à informação. E nesse caso... hum, não sei se não sou um pessimista

Liliana Maria Rosa disse...

Karla, tenho muuuuitos anos de magistério, dei aulas para crianças, adolescentes e adultos. Depois de aposentada na UFRGS, me especialisei em psicopedagogia e hoje atendo, em especial, crianças com dificuldades escolares. Duvido firme e convictamente desta história de pessoas com cabeça multitarefa, tenham elas a idade que tiverem e, mais ainda, se forem muito jovens. esta me parece uma mistificação cruel (porque prejudica ainda mais os identificados como tal)daquelas que surgem da idealização do que seria o ser humano ideal a cada nova era. Já existiram os deuses, magos, os adivinhos, os santos, etc, etc. Hoje são os multitarefas. O ser humano não se conforma mesmo em ser simpçesmente um ser humano...

Karla Yotoko disse...

É verdade... O problema é que eles incorporaram essa "obrigação", e querem mostrar a todo custo que são desta forma.

Pensando bem, é mais ou menos o que eu fazia ao estudar enquanto escutava música bem alto só para chamar a atenção da minha mãe e poder dizer: "eu consigo estudar e ouvir música ao mesmo tempo". Eu tinha que provar pra mim mesma e pros outros que conseguia fazer duas coisas ao mesmo tempo, afinal, fazer uma coisa só era coisa de gente burra. Na real, quando eu realmente precisava compreender alguma coisa, o silêncio era um ótimo companheiro...