Este semestre tomei coragem e montei uma disciplina que pretendia discutir ética. Como não tenho formação em filosofia, também não me meti a dar aulas sobre o assunto. Optei por separar alguns textos que já tinha lido e que na minha opinião tocavam no assunto.
Tive três estudantes matriculados e dois ouvintes, que apareciam, toda quinta-feira de manhã com o texto lido (ou não), para discutir ética com dois professores, um colega e eu.
As discussões foram extremamente proveitosas, pelo menos para mim, apesar de já conhecer anteriormente os textos. É muito interessante constatar que cada pessoa que lê um texto interpreta coisas distintas e destaca pontos diferentes. Além disso, a discussão sempre enveredava por vias imprevisíveis, muitas vezes mais enriquecedoras que o texto em si.
Um dos temas que mais apareceram foi a velha discussão ciência x religião. Só para situar o leitor, todos os estudantes são da biologia, e já estudaram evolução, o que em geral dá um nó na cabeça dos estudantes religiosos menos convictos. Muitos autores que falam sobre ciência para o público leigo vêm se posicionando sobre este tema espinhoso, alguns com mais cuidado, outros com mais agressividade.
Para minha sorte, um dos estudantes matriculados é bastante religioso, alguém que conhece de fato as sagradas escrituras e rebate como ninguém comentários ateus de alguns dos textos que acabamos estudando.
Quinta passada foi nosso último encontro, que fechou com um texto na minha opinião maravilhoso de Bertrand Russell, "Por que não sou cristão". A discussão que rolou obviamente derivou para milhares de caminhos. Fizemos vários comentários e passei a respeitar muito mais os religiosos estudiosos.
No final das contas, discutimos ética no comportamento humano, principalmente no que tange relações de poder, entre as quais as relações pastor-fiel e professor-aluno. Eu cheguei à conclusão, depois de toda a discussão, que o conhecimento é o melhor antídoto contra a falta de ética.
O que ficou de lição para mim, é que se há falta de ética por parte de quem detém algum poder (por exemplo, pastores de igrejas caça-níqueis), há falta de conhecimento por quem se deixa levar (por exemplo, pessoas desesperadas que não tiveram acesso ao conhecimento).
Aprendi também que não é anti-ético posicionar-me sobre assuntos polêmicos diante de estudantes, desde que este posicionamento seja honesto e, principalmente, não tenha caráter doutrinador. Já tive muitas dúvidas em relação a isso, e já adotei a postura de manter-me neutra (como se isso fosse possível) a respeito de temas polêmicos.
O importante, no fim das contas, para manter uma postura ética, é respeitar as diferenças, e tentar driblar as limitações (as minhas, e na medida do possível de outros, através da transmissão de conhecimento). Mais importante ainda, é estimular nos estudantes comportamentos de respeito a toda e qualquer diferença entre as pessoas. Acredito que assim o mundo fica melhor, ou pelo menos mais ético.
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