Mais que um blog de educação, que pretende discutir a relação professor-aluno, este blog também tem como objetivo (me) fazer refletir sobre a vida em sociedade e o papel da educação no direcionamento de novos cidadãos... Será que isso é realmente possível?
sábado, 26 de dezembro de 2015
detalhes da deglutição de um anuro (ou, como engolir um sapo)
Imagine um sapo bem grande, daqueles que assustam só de olhar... Sim, mesmo sendo bióloga, eu chamo mesmo de sapo e não penso em toda a classificação: Eukaryota, Opisthokonta, Metazoa, Eumetazoa, Bilateria, Deuterostomia, Chordata, Craniata, Vertebrata, Gnathostomata, Teleostomi, Euteleostomi, Sarcopterygii, Dipnotetrapodomorpha, Tetrapoda, Amphibia, Batrachia, Anura. Também não penso no quanto somos parecidos (eu e o sapo), já que de toda essa classificação, somos colocados nos mesmos grupos até Tetrapoda! Isso não vem ao caso agora, o que quero com esse post é descrever detalhes do processo de engolir um sapo dos grandes.
Você está desprevenido pensando alegremente na sua existência. Acontece algum problema e eis que o sapo pula direto na sua garganta... Ele pensa que você é uma lagoa (aquela em que vive o sapo que não lava o pé) e tenta nadar para dentro de você. Lógico que ele empaca, ele é enorme e a sua garganta é pequena. Aí começa o suplício: o sapo, entalado na sua garganta, com as patas dianteiras tentando descer pelo seu esôfago te dá calafrios, não deixa você dormir, comer ou pensar direito. O sapo faz barulho, arranha o seu esôfago, chuta a sua boca. Não bastasse sua existência, ele faz questão de mostrar que está lá, vivo, verde e incômodo como qualquer outro sapo nesse tipo de situação. (Nessas horas eu entendo porque o psicólogo falou que para mim, o meu problema é o maior problema do mundo... Claro! Ele está dentro da minha garganta e isso faz pequenos os sapos nas gargantas alheias).
Depois de muito lutar para tirar o sapo de lá, você resolve engolir: ele não vai sair mesmo, é melhor se render no fim das contas. Bom, ele passa vagarosamente pelo seu esôfago, te causando um mal estar indescritível, e cai no seu estômago. Agora suas enzimas digestivas começam a querer atacá-lo, mas ele é forte, a gosma que protege sua pele faz com que ele fique muito tempo no seu estômago sem ser digerido. Como ele continua se mexendo e incomodando, você tem algumas crises de enjôo, vontade de vomitar - talvez vomitando você se livre dele, mas lembre-se, ele é enorme, é melhor digerir do que ter que encarar um sapo no caminho de volta.
O tempo passa e suas enzimas finalmente atacam a pele do sapo, que de uma hora para a outra não te incomoda mais durante 24 horas por dia, só de vez em quando. A cada mexida do sapo, uma injeção de ácido no seu estômago, mas você já está quase acostumado...
Depois da longa permanência no estômago, os fragmentos do sapo finalmente passam para o seu intestino. É nesse momento que você absorve alguma coisa boa da terrível experiência... Você pode começar a pensar do ponto de vista do sapo (que só queria pular na lagoa, pois é da natureza dos sapos). Você também pode olhar em volta: há muitas coisas legais na vida: existe comida boa, existem sapos que cantam para se divertir ao invés de pular em boca de gente; existem lagoas, florestas, cachoeiras... Enfim, você descobre, depois de meses tentando digerir um sapão, que a vida é bem maior do que ele e que afinal de contas você tem amigos verdadeiros com os quais pode contar, em qualquer situação.
A partir daqui, o resto da história é desnecessário, já que todo mundo sabe o que acontece com os restos de uma comida indigesta. Surge uma sensação de leveza, que já foi substituída com distinção e louvor pela comida da mamãe.
Eu queria terminar o texto de um jeito legal, com uma mensagem edificante de fim de ano, só para marcar o período... Pensei em algumas, e as que consegui escrever sugeriam que você engolisse os seus sapos o mais rápido possível. Besteira! A digestão é muito lenta pra ser saudável e ninguém deveria ser aconselhado a engolir sapos, isso simplemente acontece com quase todo mundo!
O segundo tipo de mensagem edificante que eu consegui pensar foi na linha: pense nos sapos que já engoliu e tente tirar uma coisa boa de cada um deles. Totalmente Poliana esse final, nada a ver comigo...
O terceiro tipo foi: Feche a boca para evitar que sapos te confundam com uma lagoa... Outra sandice... Eu jamais ficaria calada em situação alguma só por medo de sapo...
Talvez o melhor conselho de todos seja: O sapo na garganta de alguém, evite ser!
Feliz 2016!
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